INTRODUÇÃO
A
centralidade da fé católica está enraizada na pessoa do Cristo. Sendo ele Deus
e Senhor, antes mesmo de findar seu ministério terreno, deixou as bases
principais para que o evangelho fosse propagado de forma imaculada. Jesus era
judeu, Jerusalém era a capital do rito cultual de todos os hebreus, porém,
desde o início da Igreja, a fé tem sido guiada e tratada com certa
particularidade a partir do mundo grego-romano, uma vez que, os novos
convertidos eram os frutos gerados da pregação apostólica direcionada não
apenas a israelitas, mas também, ao povo gentílico.
São Mateus em seu evangelho, registra
às importantes palavras de Jesus no que diz respeito a “nova nação” que
assumiria a frente do Reino de Deus:
Mt
21,43 – “Por isso vos
afirmo que o Reino de Deus vos será tirado e confiado a um povo que o fará
produzir seus frutos”.
Após a ascensão de Jesus, a
Igreja se espalhou rapidamente por outras regiões e deixou de ser uma religião
estritamente judaica para assim, tornar-se uma fé puramente universal. Essa
universalidade foi se concretizando através de novas sedes que surgiam, onde,
haviam novos sacerdotes e bispos. Santo Inácio de Antioquia (107 d.C) em sua epístola aos Efésios
comenta sobre os “bispos que são nomeados em todo o mundo” (Ef 3,2) , assim como da importância do
cristão de estar unido a ele (bispo)
para celebrar a unidade de toda a Igreja (Ef
5,1-2).
É notável afirmar que grande
parte da patrística dos primeiros séculos da Igreja, parece ter entendido que
de todas as novas sedes que se instalavam nas províncias, uma gozava de
particular reputação: Roma. Embora tivesse sido em Antioquia o local onde os
crentes tenham ganhado pela primeira vez o nome de cristãos (At 11,26), foi na cidade romana que a
nova crença ganha novos ares de poder. São Paulo em sua carta aos cristãos de
Roma, exalta a fé que já era celebrada em todo o mundo (Rm 1,8).
Um dos motivos principais pela estruturação
do forte mover da sede episcopal em Roma, deve-se ao fato do seu primeiro
Bispo, São Pedro o apóstolo. O discípulo que teve seu nome alterado (Simão = Cefas = Pedro = Pedra Jo
1,42), recebeu do próprio Cristo o poder de “ligar e desligar” (Mt 16,19)
e tinha como missão confirmar a fé dos seus irmãos (Lc 22,31-32), está intimamente ligado a antiga cidade chamada de
babilônia, uma vez que, segundo forte tradição, teria Pedro ali, exercido seu
episcopado e posteriormente tornado-se mártir ao ser crucificado de cabeça para
baixo nos tempos do Imperador Nero. Ainda que boa parte do mundo protestante, tente
afirmar o contrário quando o tema é referente ao ministério petrino e a sede
romana, a história dos primeiros 6 (seis) séculos da Igreja demonstra grande segurança
no que diz respeito a cátedra de Pedro.
O presente artigo não irá
explorar linhas interpretativas ou análises de outros teólogos, entretanto,
serão colocadas citações que procurarão esclarecer ao leitor a respeito da fé
primitiva que repousa na Santa Igreja, coluna e sustentáculo da verdade (1 Tm 3,15).
I
SÉCULO (0 a 100 d.C)
Epístola de São Paulo aos
Romanos (55-58 d.C):
“Em primeiro lugar, dou graças ao meu Deus mediante Jesus Cristo, por
todos vós, porque vossa fé é celebrada em todo o mundo” (Rm 1,8).
1ª Epístola de São Pedro (64 d.C):
“Por Silvano, que considero irmão fiel, vos escrevi em poucas palavras,
exortando-vos e testificando que esta é a verdadeira graça de Deus, na qual
deveis permanecer firmes. A que está em Babilônia (Roma), eleita como
vós, vos saúda, como também Marcos, meu filho” (1 Pe 5,12-13).
Evangelho segundo São Marcos (64 d.C):
“Jesus saiu com os seus discípulos para as aldeias de Cesaréia de Filipe
e pelo caminho perguntou-lhes: <Quem dizem os homens que eu sou?>.
Responderam-lhes os discípulos: <João Batista; outros, Elias; outros, um dos
profetas>. Então, perguntou-lhes Jesus: <E vós, quem dizeis que eu
sou?> Respondeu Pedro: <Tu és o Cristo>” (Mc 8,27-29).
Evangelho segundo São Mateus (70 d.C):
“Simão Pedro respondeu: <Tu és o Cristo, o filho de Deus vivo!>
Jesus, então, lhe disse: <Feliz és Simão, filho de Jonas, porque não foi a
carne nem o sangue que te revelou, mas meu Pai que está nos céus. E eu te
declaro: <tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; às
portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei às chaves do Reino
dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que
desligares na terra será desligado nos céus>” (Mt
16,16-19).
Evangelho segundo São Lucas (80 d.C):
“Num dia em que ele estava a oras a sós com os discípulos,
perguntou-lhes: <Quem dizem que eu sou?> Responderam-lhes: <Uns dizem
que és João Batista; outros, Elias; outros pensam que ressuscitou algum dos
antigos profetas>. Perguntou-lhes, então: <E vós, quem dizeis que eu
sou?> Pedro respondeu: <O Cristo de Deus>” (Lc
9,18-20).
“Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneiras como o
trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua confiança não desfaleça; e tu, por tua
vez, confirma os teus irmãos” (Lc
22,31).
Atos dos Apóstolos, segundo São
Lucas (70 ou 80 d.C):
“Pedro, então, de pé, junto com os Onze, levantou a voz e assim lhes
falou: <Homens da Judéia e todos voz, habitantes de Jerusalém, tomai
conhecimento disto e prestai ouvidos às minhas palavras>” (At 2,14).
“Então Pedro, repleto do Espírito Santo, lhes disse: <Chefes do povo
e anciãos! Uma vez que hoje somos interrogados judicialmente a respeito do
benefício feito a um enfermo e de que maneira ele foi curado>” (At 4,8).
“Mais e mais aderiam ao Senhor, pela fé, multidões de homens e de
mulheres a ponto de levarem os doentes até para as ruas, colocando-os sobre
leitos e em macas, para que, ao passar Pedro, ao menos a sua sombra cobrisse
algum deles” (At 5,14-15).
“Tornado-se acesa a discussão, levantou-se Pedro e disse: <Irmãos,
vós sabeis que, desde os primeiros, aprouve a Deus, entre vós, que por minha
boca ouvissem os gentios a palavra da Boa Nova e abraçassem a fé” (At 15,7).
Evangelho segundo São João (95 d.C):
“Levou-o
a Jesus, e Jesus fixando nele o olhar, disse: <Tu és Simão filho de João;
serás chamado Cefas (que quer dizer pedra)>” (Jo 1,40-42).
“Tendo eles comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: <Simão, filho e
João, amas-me mais do que estes?> Respondeu ele: <Sim, Senhor, tu sabes
que te amo>”. Disse-lhe Jesus: <Apascenta os meus cordeiros>” (Jo 21,15).
Epístola aos Coríntios, segundo o Papa Clemente de Roma (aproximadamente:
81-96 ou 96-98 d.C)
OBS: Clemente, no exercício de
sua autoridade, envia uma Carta à Igreja de Corinto na intenção de
corrigi-los fraternalmente.
“Eu vos chamei, e não obedecestes; prolonguei meus discursos, e não
prestastes atenção. Ao contrário, tornastes inúteis os meus conselhos e
rejeitastes minhas admoestações. Por isso, eu também rirei da vossa ruína, e me
alegrarei quando alastrar sobre vós o extermínio, quando caírem sobre vós à
tempestade, quando vier à catástrofe semelhante ao furacão, e cair sobre vós à
aflição e a angústia. Então me chamareis, mas eu não vos escutarei. Os maus me
procurarão, porém não me encontrarão, porque eles odiaram a Sabedoria e não
escolherem o temor do Senhor; não quiseram dar atenção aos meus conselhos, e
desprezaram as minhas admoestações” (Aos
Coríntios 57,4-5).
“Se
alguns desobedecem ao que nós lhe dissemos da parte de Deus, saibam eles que
estão incorrendo em falta e não poucos perigos” (Aos Coríntios 59,1).
“Vós
nos dareis alegria e contentamento, se obedecerdes ao que escrevemos por meio
do Espírito Santo, se acabardes com a cólera injusta da vossa inveja, segundo o
pedido, que vos dirigimos nesta carta, tendo em vista a paz e a concórdia” (Aos Coríntios 63,2).
II
SÉCULO (101 a 200 d.C)
Epístola aos Romanos, segundo Santo Inácio de Antioquia (aproximadamente: 107 a 110 d.C):
“Inácio, também chamado Teóforo, à Igreja que recebeu a misericórdia, por meio da magnificência do Pai Altíssimo e de Jesus Cristo, seu Filho único; à Igreja amada e iluminada pela bondade daquele que quis todas as coisas que existem, segundo fé e amor por Jesus Cristo, nosso Deus; à Igreja que preside na região dos romanos, digna de Deus, digna de honra, digna de ser chamada feliz, digna de louvor, digna de sucesso, digna de pureza, que preside ao amor, que porta a lei de Cristo, que porta o nome do Pai; eu a saúdo em nome de Jesus Cristo, o Filho do Pai” (Aos Romanos, saudação).
Contra as Heresias, segundo
Santo Irineu de Lião (180 d.C):
“Assim, Mateus publicou entre os judeus, na língua deles, o escrito dos
Evangelhos, quando Pedro e Paulo evangelizavam em Roma e aí fundavam a Igreja.
Depois da morte deles, também Marcos, o discípulo e intérprete de Pedro, nos
transmitiu por escrito o que Pedro anunciava. Por sua parte, Lucas, o
companheiro de Paulo, punha num livro o Evangelho pregado por ele. E depois,
João, o discípulo do Senhor, aquele que recostara a cabeça ao peito dele,
também publicou o seu Evangelho, quando morava em Éfeso, na Ásia” (Contra as Heresias [III livro] 1,1).
“Mas visto que seria coisa bastante longa elencar, numa obra como esta,
as sucessões de todas as igrejas, limitar-nos-emos à maior e mais antiga e
conhecida por todos, à igreja fundada e constituída em Roma, pelos dois
gloriosíssimos apóstolos, Pedro e Paulo, e, indicando a sua tradição recebida
dos apóstolos e a fé anunciada aos homens, que chegou até nós pelas sucessões
dos bispos, refutaremos todos os que de alguma forma, quer por enfatuação ou
vanglória, quer por cegueira ou por doutrina errada, se reúnem prescindindo de
qualquer legitimidade. Com efeito, deve necessariamente estar de acordo com
ela, por causa da sua origem mais excelente, toda a igreja, isto é, os fiéis de
todos os lugares, porque nela sempre foi conservada, de maneira especial, a
tradição que deriva dos apóstolos” (Contra
as Heresias [III livro] 3,2).
“Os
bem-aventurados apóstolos que fundaram e edificaram a Igreja transmitiram o
governo episcopal a Lino, o Lino que Paulo lembra na carta a Timóteo. Lino teve
como sucessor Anacleto. Depois dele, em terceiro lugar, depois dos apóstolos,
coube o episcopado a Clemente, que vira os próprios apóstolos e estivera em
relação com eles, que ainda guardava viva em seus ouvidos a pregação deles e
diante dos olhos a tradição. E não era o único, porque nos seus dias viviam
ainda muitos que foram instruídos pelos apóstolos. No pontificado de Clemente
surgiram divergências graves entre os irmãos de Corinto. Então a Igreja de Roma
enviou aos coríntios uma carta (carta mencionada no campo “I Século”)
importantíssima para reuni-los na paz, reavivar-lhes a fé e reconfirmar a
tradição que há pouco tempo tinham recebido dos apóstolos, isto é, a fé num
único Deus todo-poderoso, que fez o céu e a terra, plasmou o homem e provocou o
dilúvio, chamou Abraão, fez sair o povo do Egito, conversou com Moisés, deu a
economia da Lei, enviou os profetas, preparou o fogo para o diabo e os seus
anjos. Todos os que o quiserem podem aprender desta carta que este Deus é
anunciado pelas Igrejas como o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo e conhecer a
tradição apostólica da Igreja, porque mais antiga do que os que agora pregam
erradamente outro Deus superior ao Demiurgo e Criador de tudo o que existe”
(Contra as Heresias [III livro] 3,3).
“A este Clemente sucedeu Evaristo; a Evaristo, Alexandre; em seguida,
sexto depois dos apóstolos foi Sisto; depois dele, Telésforo, que fechou a vida
com gloriosíssimo martírio; em seguida Higino; depois Pio; depois dele,
Aniceto. A Aniceto sucedeu Sóter e, presentemente, Eleutério, em décimo segundo
lugar na sucessão apostólica, detém o pontificado. Com esta ordem e sucessão
chegou até nós, na Igreja, a tradição apostólica e a pregação da verdade. Esta
é a demonstração mais plena de que é uma e idêntica a fé vivificante que,
fielmente, foi conservada e transmitida, na Igreja, desde os apóstolos até
agora” (Contra as Heresias [III
livro] 3,3).
III
SÉCULO (201 a 300 d.C)
Tratado sobre os princípios,
segundo Orígenes (220 a 230 d.C):
“Penso, com
efeito, que a natureza humana tem limites definidos, mesmo quando se trata de
Paulo, de quem está escrito: <Este é para mim um vaso de eleição (At
9,15)>, ou de Pedro, contra quem nada podem as portas do inferno”
(Tratado sobre os princípios [Livro III]
2,5).
Homilias sobre o evangelho de São Lucas, segundo Orígenes (240 d.C):
“<Todos vós sereis escandalizados nesta noite>. Por tanto, todos foram escandalizados, a tal ponto que o próprio Pedro, o chefe dos apóstolos, renegou Jesus três vezes” (Homilia 17, capítulo 6).
IV
SÉCULO (301 a 400 d.C)
História
Eclesiástica, segundo Eusébio de Cesaréia (303 a
324 d.C):
“Imediatamente
depois, ainda no começo do império de Cláudio, a Providência universal, boníssima
e cheia de amor aos homens, conduziu pela mão a Roma, qual adversário deste
destruidor da vida, o valoroso e grande apóstolo Pedro, o primeiro dentre todos
pela virtude. Autêntico general de Deus, munido de armas divinas (Ef 6,14-17;
1Ts 5,8), trazia do Oriente ao Ocidente a preciosa mercadoria da luz
inteligível, e anunciava, como a própria luz (cf. Jo 1,9) e palavra de salvação
para as almas, a boa nova do reino dos céus”
(HE [Livro II] 14,6).
“Diz-se
que o apóstolo conheceu o fato por uma revelação do Espírito. Alegrou-se com o
desejo deles e aprovou o livro por meio de leitura nas assembleias. Clemente,
no sexto livro das Hypotyposes conta essa história e a confirma com seu
testemunho o bispo de Hierápolis, chamado Papias. Pedro menciona Marcos na sua
primeira carta que, diz-se, ele mesmo compôs em Roma, assinalando-a com o nome
simbólico de Babilônia, no seguinte trecho: “A que está em Babilônia, eleita
como vós, vos saúda, como também Marcos, o meu filho” (1Pd 5,13).” (HE [Livro II] 15,2).
“Foi
também ele, o primeiro de todos os figadais inimigos de Deus, que teve a
presunção de matar os apóstolos. Com efeito, conta-se que sob seu reinado Paulo
foi decapitado em Roma. E ali igualmente Pedro foi crucificado (cf. Jo
21,18-19; 2Pd 1,14). Confirmam tal asserção os nomes de Pedro e de Paulo, até
hoje atribuídos aos cemitérios da cidade” (HE [Livro II] 25,5).
“Pedro,
contudo, parece ter pregado aos judeus da Diáspora, no Ponto, na Galácia, na
Bitínia, na Capadócia e na Ásia (cf. 1Pd 1,1), e finalmente foi para Roma, onde
foi crucificado de cabeça para baixo, conforme ele mesmo desejara sofrer” (HE [Livro III] 1,2).
“Depois
do martírio de Pedro e Paulo, o primeiro a obter o episcopado na Igreja de Roma
foi Lino. Paulo, ao escrever de Roma a Timóteo, cita-o na saudação final da
carta (2Tm 4,21)” (HE
[Livro III] 2,1).
“E
em primeiro lugar as pertencentes aos santos evangelhos. São as seguintes: <Mateus,
no entanto, publicou entre os hebreus e em sua própria língua um Evangelho
escrito, enquanto Pedro e Paulo anunciavam a boa nova em Roma e lançavam os
fundamentos da Igreja. Mas, após a morte deles, Marcos, discípulo e intérprete
de Pedro, transmitiu-nos por escrito igualmente o que Pedro pregara>” (HE [Livro V] 8,2-3).
“Tais
os fatos. Quanto a Adamâncio (pois Orígenes usava também este apelativo), na
época em que Zeferino guiava a Igreja de Roma, esteve em Roma, conforme ele
próprio escreveu numa passagem: <Tivera desejos de ver a muito antiga Igreja
de Roma>. 95 Após rápida permanência, dali voltou a Alexandria,” (HE [Livro VI] 14,10).
“No
quinto livro dos Comentários ao Evangelho segundo João, o mesmo Orígenes
declara o seguinte acerca das Epístolas dos apóstolos: “Paulo, digno ministro
do Novo Testamento, não segundo a letra, mas segundo o espírito, depois de ter
anunciado o evangelho desde Jerusalém e suas cercanias até o Ilírico (Rm
15,19), não escreveu a todas as Igrejas que ele havia instruído; mesmo àquelas
a que escreveu, enviou apenas poucas linhas. Pedro, sobre quem está edificada a
Igreja de Cristo, contra a qual não prevalecerão as portas do inferno (Mt
16,18), deixou apenas uma carta incontestada, e talvez ainda outra, porém
controvertida. (HE
[Livro VI] 25,7-8).
Explicação dos Símbolos,
segundo Santo Ambrósio de Milão (387 a 393 d.C):
“Tu me dirás: Em seguida surgiram as heresias. De fato, também o
Apóstolo diz: <É necessário que haja heresias, para que os bons sejam
provados> (1Cor 11,19). O que dizer, portanto? Vede a simplicidade, vede a
pureza. Quando surgiram os patripassianos, também os católicos desta região
julgaram que se devia acrescentar invisível e impassível, como se o Filho de
Deus fosse visível e passível. Se ele foi visível na carne, essa carne é que
foi visível, não a divindade, a carne é que foi passível, não a divindade. Além
disso, escuta o que ele diz: <Deus, meu Deus, olha para mim; por que me
abandonaste?> (Sl 21,2; cf. Mt 27,46). Nosso Senhor Jesus Cristo disse isso
na paixão. Disse isso enquanto homem, enquanto carne, como se a carne dissesse
à divindade: <Por que me abandonaste?> Suponhamos que os nossos anciãos
tenham sido médicos, que eles quiseram trazer saúde à doença mediante o
remédio. Não se pergunta se o remédio não foi necessário naquele tempo em que
as almas de certos hereges estavam com doença grave; se naquele tempo foi
necessário, agora não o é. Por qual razão? Tendo sido conservada íntegra a fé
contra os sabelianos, os sabelianos foram expulsos, principalmente das regiões
do Ocidente. Os arianos encontraram para si nesse remédio uma espécie de
calúnia, de modo que, enquanto conservamos o símbolo da Igreja Romana, eles consideraram
o Pai todo-poderoso invisível e impassível” (Explicação dos Símbolos, 4).
“Se nada pode ser tirado ou acrescentado aos escritos de um só apóstolo,
como poderíamos mutilar o símbolo que recebemos como tendo sido composto e
transmitido pelos apóstolos? Nada devemos tirar e nada acrescentar. Este é o símbolo
conservado pela Igreja Romana, onde Pedro, o primeiro dos apóstolos, sentou-se
e onde lhe conferiu a sentença comum” (Explicação
dos Símbolos, 7).
Sobre os Sacramentos, segundo
Santo Ambrósio de Milão (387 a 393 d.C):
“Nós não ignoramos que a Igreja Romana não tem esse costume, da qual
seguimos em tudo o exemplo e forma. Contudo, ela não tem esse costume de lavar
os pés. Considera, porém, que ela deixou de lado por causa do grande número. Há
também aqueles que dizem, tentando desculpá-la, que isso não se deve fazer no
mistério, não no batismo, não na regeneração, mas que se deve lavar os pés como
se fossem de hóspede. Contudo, uma coisa é a humildade, outra a santificação.
No entanto, escuta: é mistério e também santificação: “Se eu não lavar os teus
pés, não terás parte comigo” (Jo 13,8). Não digo isso, porém, para repreender
outros, mas para que eu exerça as minhas funções. Desejo seguir em tudo a
Igreja romana, mas nós também temos razão humana. O que, em outro lugar, se
observa de maneira mais correta, nós também guardamos de maneira mais correta.
Seguimos o próprio apóstolo Pedro e estamos apegados ao seu próprio fervor. O
que a Igreja Romana responde a isso? Sim, o próprio apóstolo Pedro é, para nós,
autor dessa afirmação, ele que foi sacerdote da Igreja Romana. É o próprio
Pedro que diz: “Senhor, não só os pés, mas também as mãos e a cabeça” (Jo
13,9). Vê a fé. O que ele recusou antes foi por causa da humildade; depois,
quando ofereceu a si mesmo, foi por causa do fervor e da fé” (Sobre os Sacramentos [Livro III] 1,5-6).
Sobre a Penitência, segundo
Santo Ambrósio de Milão (387 a 393 d.C):
“É certamente isto que eles confessam a seu próprio respeito — e com
razão; de fato, não podem ter a herança de Pedro aqueles que não têm a cátedra
de Pedro, a qual despedaçam com uma ímpia divisão. Contudo, é sem razão que
negam também que na Igreja os pecados possam ser perdoados. Com efeito, foi
dito a Pedro: “A ti eu darei as chaves do Reino dos céus, e tudo o que ligares
na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será também
desligado nos céus” (Mt 16,19), e o próprio “vaso de eleição” (cf. At 9,15) do
Senhor diz: “Se perdoais algo a alguém, também eu perdoo; pois também eu, o que
perdoei, foi em vosso favor, na pessoa de Cristo” (2Cor 2,10). Por que então
eles leem Paulo, se pensam que ele errou com tal impiedade, que chegou a
reivindicar para si um direito do seu Senhor? Mas ele reivindicou o que
recebera; não usurpou o indevido” (Sobre
a Penitência [I livro] 7,34).
“Finalmente diz Pedro a Simão, que, pervertido pelo exercício da magia,
julgava poder comprar com dinheiro a graça de Cristo pela imposição da mão e a
infusão do Espírito Santo: <Não tens parte nem sorte nesta fé, porque o teu
coração não é reto diante de Deus. Assim sendo, faze penitência por esta tua
perversão e roga a Deus para que te seja talvez perdoada esta lembrança do teu
coração: pois eu vejo que tu estás nos laços da iniquidade e na amargura do
fel” (At 8,21-23). Tu vês que a este, que blasfemou contra o Espírito Santo>
pela vaidade da magia, Pedro condena pela autoridade apostólica, — ainda mais
que não tinha a consciência pura a para fé. E no entanto não lhe cortou a
esperança do perdão, pois que o convidou à penitência” (Sobre a Penitência [II livro] 4,23).
“Portanto, se Pedro usou as mesmas palavras que Deus usou sem prejuízo
do próprio saber, por que não admitimos também que Pedro tenha empregado esta
expressão sem prejuízo de sua fé? E Pedro, realmente, não poderia ter dúvidas a
respeito do dom de Cristo, que lhe concedera o poder de perdoar pecados (cf. Mt
16,19), sobretudo porque não devia dar espaço às astúcias dos hereges, que na
verdade querem destruir a esperança dos homens para introduzirem com maior
facilidade entre os desesperançados a persuasão de repetir o batismo” (Sobre a Penitência [II livro] 5,34).
Confissões, segundo Santo Agostinho (397 a 400 d.C):
“Vamos a Igreja, quero tornar-me cristão. Este, não cabendo em si de alegria, o acompanhou imediatamente. Foi aí iniciado nos primeiros mistérios da catequese e, pouco tempo depois, deu o nome para regenerar-se no batismo, para admiração de Roma e alegria de toda Igreja" (VIII livro; 2,5).
V
SÉCULO (401 a 500 d.C)
Apologia contra os livros de Rufino, segundo São Jerônimo (402 d.C):
“Ele não pode, agora que é meu inimigo, tratar-me como herege, eu sobre quem ele disse recentemente em seu prefácio que não estava em desacordo com a sua fé. Ao mesmo tempo, aproveito para lhe fazer também esta pergunta: Que quer dizer esta linguagem moderada e dúbia? <O leitor latino, diz ele, nada encontrará aqui que esteja em desacordo com nossa fé.> O que ele chama <sua> fé? Aquela pela qual a Igreja romana exerce seu poder ou aquela que está contida nos volumes de Orígenes? Se ele responde: a fé romana, então nós somos católicos, nós que nada traduzimos do erro de Orígenes. Mas se sua fé são blasfêmias de Orígenes, ele demonstra que é herege, lançando-me sua acusação de inconstância. Ou a fé daquele que me louva é sã e, por sua própria confissão, ele me associa a si, ou então é errônea, e ele mostra que, se fez meu elogio, é porque acreditava que eu fosse participante de seu erro” (Apologia contra Rufino, [I Livro] 4).
“Nunca meu trabalho suscitou algum problema, nunca Roma foi abalada por ele” (Apologia contra Rufino, [I Livro] 8).
“Porque não ambicionamos o sacerdócio, nós que estamos escondidos em nossas celas; e não temos pressa, reprovando a humildade, de comprar a preço de ouro o episcopado. Também não temos, em um espírito de revolta, o desejo de degolar o pontífice escolhido por Deus, nem damos a entender que somos hereges, mostrando-nos favoráveis aos hereges” (Apologia contra Rufino, [I Livro] 32).
“Sabe, porém, que a fé romana, louvada pela voz do Apóstolo, não admite artifícios desta natureza, e que, mesmo se um anjo anunciasse diferentemente do que foi pregado uma vez por todas, a fé sustentada pela autoridade de Paulo não poderia mudar” (Apologia contra Rufino, [III Livro] 12).
“Da comunhão que nos unia, a mim e ao nosso papa Teófilo, eu não invocarei nenhum outro testemunho” (Apologia contra Rufino, [III Livro] 18).
“Na epístola de nosso santo papa Anastásio, tu te mostraste inconstante; e na tua agitação, tu não encontras nada em que possas fincar o pé.” (Apologia contra Rufino, [III Livro] 20).
“Aliás, que a epístola tenha sido escrita por ele ou que ela não tenha sido, tu atestas que não te cabe em nada, porque tens o testemunho de seu predecessor e que, por amor de tua cidadezinha fortificada, tu desprezaste o pedido de Roma de que tu a honrasses pelo brilho de tua presença. Se tu suspeitas que esta carta tenha sido forjada por mim, por que não a procuras no arquivo da Igreja Romana” (Apologia contra Rufino, [III Livro] 20).
Cartas, segundo o Papa Leão
Magno (430 a 461 d.C):
“Por
causa de Pedro, o bem-aventurado príncipe dos apóstolos, a santa Igreja romana possui
a primazia (princi-patus) sobre todas as Igrejas do mundo inteiro” (Carta 65,2).
Sermão sobre a
transfiguração do Senhor, segundo o Papa Leão Magno ( 430 a 461 d.C):
“O
apóstolo Pedro, por revelação do Pai supremo, supera o corpóreo e vai além do humano.
Vê com os olhos do espírito o Filho de Deus vivo, confessa a glória da
divindade, porque não se detém na substância da carne e do sangue. A
sublimidade desta fé agradou tanto ao Senhor que ele o chamou feliz e
bem-aventurado e outorgou-lhe a sagrada firmeza da pedra inconcussa, sobre a
qual seria fundada a Igreja e contra a qual não prevaleceriam as portas do inferno,
nem as leis da morte. Além disso, para ligar ou desligar qualquer causa, não
seria ratificado nos céus senão o que sentenciasse Pedro.” (sermão transf. Do Senhor, 1).
Sermão na ascensão
do Senhor, segundo o Papa Leão Magno ( 430
a 461 d.C):
“Neles,
pelo sopro do Senhor, infundiu-se o Espírito Santo nos apóstolos todos; ao
bem-aventurado apóstolo Pedro, com primazia, foi entregue após as chaves do
reino, o cuidado das ovelhas do Senhor” (I sermão na ascensão do Senhor, 2).
Sermão sobre a
quaresma, segundo o Papa Leão Magno ( 430
a 461 d.C):
“Jejuemos
pois, na segunda, na quarta e na sexta-feira; no sábado, porém celebramos as vigílias
junto do apóstolo Pedro, que não descuidando do rebanho que lhe foi confiado,
conseguirá para nós a proteção de suas preces.” (IV sermão sobre a quaresma, 6).
Sermão de
pentecostes, segundo o Papa Leão Magno ( 430
a 461 d.C):
“Jejuemos,
pois, quarta e sexta-feira e no sábado celebremos as vigílias junto do
bem-aventurado apóstolo Pedro. Que ele patrocine nossas orações a fim de
merecermos em tudo a misericórdia de Deus” (II sermão de pentecostes, 9).
Tratado contra a heresia de
Êutiques, segundo o Papa Leão Magno ( 430 a 461 d.C):
“Vós,
pois, amados de Deus e comprovados pelo testemunho apostólico, vós, aos quais o
bem aventurado apóstolo Paulo, doutor dos gentios, diz: “Porque a vossa fé é
anunciada em todo o mundo”, guardai em vós o que sabeis que tão grande pregador
pensava de vós” (tratado
contra a heresia de Êutiques, 3).
VI
SÉCULO (501 a 600 d.C)
Regra pastoral, segundo o Papa Gregório Magno ( 591 d.C):
“Compreenderemos
mais plenamente em que consiste esse discernimento se considerarmos o exemplo
do primeiro pastor. Pela iniciativa de Deus, Pedro ocupava o primeiro lugar na
Igreja. Ora, como Cornélio, homem justo, se prostrasse humildemente diante
dele, Pedro rejeitou esse excessivo sinal de respeito e, reconhecendo-se
semelhante a ele, disse: Levanta-te, não o faças, sou um homem também eu. Quando,
porém, descobriu o pecado de Ananias e Safira, imediatamente manifestou de modo
claro com qual poder tinha sido posto à frente dos demais. Com uma só palavra, tirou-lhes
a vida, vida que ele havia escrutado pelo Espírito, e se recordou, então, de
haver a mais alta autoridade na Igreja contra os pecados, coisa que não havia
reconhecido quando, vivamente, seus irmãos lhe tributavam honra na presença dos
justos” (Regra pastoral
[segunda parte – a vida do pastor]; capitulo 6).
“É
de fato compreensível, como já dissemos, que os fiéis se desencorajem de ouvir
a pregação se o pastor se descuida de dar ajuda nas concretas necessidades. Por
isso, o primeiro pastor (Pedro) admoesta com solicitude, dizendo: <Exorto os
presbíteros que estão entre vós, eu que sou presbítero como eles, testemunha
dos sofrimentos de Cristo e participante da glória que vai ser revelada: apascentai
o rebanho de Deus que vos foi confiado> (1 Pd 5,1-2). Recomendava, nessa
passagem, dar alimento para o coração ou aquele para o corpo? Ele esclareceu,
acrescentando: Provendo às necessidades não por imposição, mas de livre e
espontânea vontade, como Deus o quer; não por causa de lucro sujo, mas com
generosidade” (Regra
pastoral [segunda parte – que o pastor não deixe, nas suas ocupações
exteriores, enfraquecer seu cuidado com a vida interior]; capitulo 7).
“Não
existe ninguém que viva de modo que não caia em alguma culpa. Deseja, por
conseguinte, ser amado mais do que a verdade aquele que pretende, contra toda a
evidência, que ninguém lhe deva perdoar alguma coisa. Por isso, Pedro acolheu
de boa vontade a repreensão de Paulo, e Davi ouviu com humildade a correção de
um súdito. Assim, os verdadeiros pastores não cultivam sentimentos de
amor-próprio e consideram humilde gentileza uma palavra livre e clara por parte
dos fiéis” (Regra
pastoral [segunda parte – que o pastor não se proponha a agradar aos homens com
seu zelo]; capitulo 8).
“Levantem
sem demora a arca do testamento e ensinem com prontidão quando se apresenta a
necessidade. Por isso, diz bem o primeiro pastor (Pedro) da Igreja exortando os
outros pastores: <Sempre prontos a responder a todo aquele que vos pedirá a
razão da esperança que está em vós> (1 Pd 3,15)” (Regra pastoral [segunda parte – quando o
pastor de almas deve se aplicar a meditar a lei divina]; capitulo 11).
“Por
isso, Pedro, vendo que alguns estavam aterrorizados pelo espetáculo das suas
ações iníquas, lhes dá este aviso: <Arrependei-vos e cada um de vós se faça
batizar> (At 2,38). Antes de falar do batismo, ele falou das lágrimas de
arrependimento, para que antes se imergissem na água da própria aflição e, em
seguida, se lavassem pelo sacramento do batismo. Por conseguinte, aqueles que
não se preocupam de chorar os pecados cometidos, com que ânimo vivem seguros de
obter o perdão, se o mesmo sumo pastor da Igreja (Pedro) considerou que se
devesse acrescentar a penitência ao sacramento instituído, sobretudo com a finalidade
de extinguir os pecados?” (Regra
pastoral [terceira parte – É preciso admoestar de modo diferente aqueles que
choram os próprios pecados]; capitulo 30).
CONCLUSÃO
A fé da Igreja é inegável,
sagrada, santa e verdadeira.
A crença de que São Pedro foi o
primeiro líder da Santa Igreja e de que seus sucessores possuem missão continua
e inacabada na Igreja de Deus, perdura desde os primeiros tempos apostólicos.
É interessante afirmar que
grande parte dos textos posteriores às escrituras, demonstram total coerência com
os versos bíblicos que atestam o ministério petrino, sendo assim, crer na
missão encabeçada por São Pedro é um ato totalmente bíblico e histórico.
“Tornado-se acesa a discussão, levantou-se Pedro e disse: <Irmãos,
vós sabeis que, desde os primeiros, aprouve a Deus, entre vós, que por minha
boca ouvissem os gentios a palavra da Boa Nova e abraçassem a fé”
(At 15,7).
OBS:
Esse texto sofrerá modificações à medida que, novas citações sejam encontradas.