domingo, 2 de março de 2014

MARIA E SUA RELAÇÃO COM A ARCA DA ALIANÇA


INTRODUÇÃO

O estudo da mariologia permitiu que a Igreja através dos séculos, passasse a entender com um maior cuidado as relações que Maria teve com seu filho Jesus Cristo na economia (grego oikos [casa] e nomia [lei] – “Lei da Casa”) da salvação.  Para que o messias chegasse até nós, o canal utilizado por Deus para que sua promessa se cumprisse na plenitude dos tempos, se concretizaria em Maria. Certo disso, Paulo escreve aos gálatas dizendo que:

Gl 4,4-5Quando, porém, chegou à plenitude do tempo, enviou Deus o seu filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei (...).

Essa afirmação do apóstolo permite dizer que a “mulher” profetizada já no livro de Genesis (Gn 3,15) tem participação primordial e fundamental em toda a trajetória da salvação do gênero humano. Foi através de seu sim generoso que o Cristo chegou até nós (Lc 1,38).  

Dentre os importantes conceitos ligados a virgem, um pode ser caracterizado como primário para entendermos o elo em que o velho testamento se uni ao novo e as características praticamente idênticas entre a Arca da Aliança que é importante para judeus e Maria que para nós cristãos é considerada mãe da Igreja. Neste artigo, abordarei essa ligação que é fundamental para a teologia católica.

A ARCA DA ALIANÇA

A arca da aliança, foi um objeto criado nos tempos de Moisés para que dentro dela fosse guardado o testemunho que seria entregue para o povo de Deus, isto é, dentro do cofre estariam as tábuas da Lei (Ex 25,21) que era o decálogo. Acima dela estaria o “propiciatório” onde o próprio Deus se apresentaria para falar com o sacerdote (Ex 25,22). Tanto no tabernáculo, quanto no Templo erguido por Salomão, a arca ficava nos Santos dos Santos (Ex 26,33-34) e todas as vezes que o Senhor queria manifestar a sua glória, sua nuvem ou “sombra” descia nos locais de culto (Ex 40,34; II Cr 5,13-14; Ez 43,1-5) e ali onde a arca se encontrava, a presença do altíssimo era manifestada e através desse objeto, Iahweh falava com seu povo (Lv 16,2; Nm 7,89).

A arca da aliança era tão importante para o povo hebreu que em uma disputa com os filisteus, o povo escolhido acreditava que somente com a posse da dela, eles venceriam.

I Sm 4,3O povo voltou ao acampamento e os anciãos de Israel disseram: “Por que Iahweh hoje permitiu que fossemos vencidos pelos filisteus? Vamos a Silo buscar a Arca da Aliança de Iahweh: que venha  para o meio de nós e nos salve da mão dos nossos inimigos.

A arca tinha sua centralidade dentro do culto judaico e era um símbolo da presença real de Deus em seu meio. No livro de Levítico, vemos que em alguns casos a própria arca era chamada de “Iahweh”.

Lv 16,12-13Encherá então um incensário com brasas ardentes tiradas do altar de diante de Iahweh, e tomará dois punhados de incenso aromático pulverizado. Levará tudo para detrás do véu, e colocará o incenso sobre o fogo diante de Iahweh; uma nuvem de incenso recobrirá o propiciatório que está sobre o testemunho, a fim de que não morra.

MARIA E A ARCA DA ALIANÇA

Maria foi à criatura preparada por Deus para abrigar o próprio Logos, a própria palavra (Jo 1,1), foi preparada para ser a mãe do nosso Senhor (Lc 1,43). Podemos dizer que a Mãe do Salvador é a personificação da antiga arca da aliança por conter semelhanças importantíssimas na história em que se desenvolveu. Sendo assim, separei por tópicos tais ligações e suas respectivas passagens bíblicas que fazem referencias diretas entre a Arca e Maria.

  •  Davi, por temer ao Senhor, se questiona: “Como virá a mim a ARCA do Senhor”? (II Sm 6,9).
  • Isabel, por se alegrar com a chegada de Maria, se questiona: “De onde me provém isto a mim, que venha visitar-me a mãe do meu Senhor”? (Lc 1,43).
  • Na arca, o próprio Deus se manifestava (Ex 25,22; Nm 7,89).
  • No ventre de Maria, o próprio Deus se manifestou (Mt 1,23; Jo 1,14).
  • A arca da aliança ficava no “santo dos santos” (I Rs 6,16-19) e ali, para demonstrar a sua glória, Iahweh se fazia presente através de uma nuvem ou sombra (Ex 40,34; I Rs 8,10; Ez 10,3).
  • Maria foi tomada pela “sombra do altíssimo” (Lc 1,35) e em seu ventre o próprio Deus se fez presente (Mt 1,23).
  • A Arca carregava a antiga aliança de Deus (Ex 25,16).
  • Maria carregou em seu ventre a nova aliança (Hb 12,24).
  • A arca continha à vara de Arão (Nm 17,25; Hb 9,4), símbolo do sacerdócio, uma vez que, após a instituição da Lei, o irmão de Moisés (Arão) foi o primeiro sumo sacerdote da linhagem de Levi (Ex 28,1; Ex 30,30).
  • Maria carregava em seu ventre o grande sumo sacerdote (Hb 4,14).
  • A arca continha o maná, o pão descido dos céus para alimentar os hebreus (Ex 16,33; Hb 9,4).
  • Maria carregava em seu ventre o próprio pão descido dos céus (Jo 6,51), o verdadeiro maná que se dá por nós (Jo 6,54).

A ARCA E A MULHER DO APOCALIPSE

No capitulo doze do livro das revelações, verificamos uma proeminência a Maria, mãe de Deus.

Ap 12,1Um sinal grandioso apareceu no céu: uma Mulher vestida com o sol, tendo a lua sob os pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas: estava grávida e gritava, entre as dores do parto, atormentada para dar a luz.

Existem duas interpretações deste texto que são normalmente usadas para desvendar o mistério que envolve a mulher. A cena que João descreve nos remete a Gn 3,15-16, onde Deus coloca uma inimizade entre a “descendência da Mulher” e a “descendência da serpente” e a multiplicação das dores de seu parto.

A interpretação mais utilizada no segmento protestante é de que a Mulher representa o povo santo da era messiânica (Mq 4,9-10) e a Igreja que está em luta. Tal conceito também é aceito pela fé católica, entretanto, a Mulher também representa Maria, uma vez que não é a Igreja que dá a luz ao messias e sim a virgem santíssima (a Igreja por sua vez é indicada como sendo pertencente à descendência da Mulher {Ap 12,17}). É dela que nasce o rei que governará todas as nações (Ap 12,5), é dela o ventre agraciado onde morou o próprio Deus (Lc 1,42-42).

Ao analisarmos o contexto em que se encontra a visão narrada por João, verificamos que anteriormente (último versículo do capítulo onze) ao aparecimento deste “sinal grandioso” que resultou na mulher vestida de sol, lemos que no templo de Deus que está no céu, apareceu um símbolo importantíssimo para o povo de Israel:

Ap 11,19O templo de Deus que está no céu se abriu, e apareceu no templo a ARCA da sua aliança. Houve relâmpagos, vozes, trovões, terremotos e uma grande tempestade de granizo.

Lendo esses dois versículos do livro de apocalipse, encontramos aqui duas peças chaves, sendo que, uma tinha grande significados para os hebreus (Arca) e a outra para os novos convertidos em Cristo (Mulher). Como já dito, a arca não só representava, mas sim, possuía a manifestação de Deus que falava através do seu povo, semelhantemente, Maria abrigou dentro de si à própria “Teofania” que era a manifestação do Senhor em sua pessoa humana.

Curiosamente, a arca da aliança reaparece no templo de Deus que está no céu, assim como a Mulher, que como um sinal grandioso, foi revelado no mesmo firmamento. É muito provável que João tenha pensando em Maria, já que anteriormente, sua visão foi a da Arca da Aliança.

CONCLUSÃO

A Arca da Aliança foi um objeto muito importate para o povo Hebreu. Deus se fazia presente sobre os anjos do propiciatório (Ex 25,22). A arca continha as tabuas da lei, a vara de Arão e o mana que alimentava o povo (Hb 9,4), entretanto, a arca desapareceu por ocasião da ruína de Jerusalém e nunca mais foi vista ou reconstruída (Jr 3,16).

Maria, a nova arca, possuía em seu ventre o próprio Deus (Mt 1,23), a nova aliança (Hb 12,24), o verdadeiro sumo sacerdote (Hb 4,14) e o próprio pão que desceu do céus para alimento dos convertidos (Jo 6,55-56). Diferente da arca que desapareceu, a Tradição nos revela que Maria foi assunta aos céus (CIC 966), por conta dos méritos de Jesus Cristo nosso Salvador e de lá, intercede por nós com seu carinho materno.

Que a Virgem Maria rogue por nós para que sejamos dignos das promessas de Cristo Jesus!

Paz a todos!

Érick Gomes. 




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