Há algum tempo tenho percebido que algumas pessoas têm
insisto em dizer que “venerar” e “adorar” tecnicamente representam sinônimos e
que essas palavras retratam nada mais nada menos que a mesma coisa. De qualquer
forma, seria certo pensar que venerar reflete e transcende um algo a mais que a
palavra poderia significar?
Quero aqui realizar um “exame de consciência”, livre
de qualquer aspecto teológico, proponho aqui uma reflexão do que de fato o
nosso coração ensina a respeito das palavras e o que devemos considerar quando
pensamos em venerar e adorar.
Se procurarmos o significado da palavra “adorar” (do latim [adorare]) veremos que entre as
mais variadas respostas se encontra o termo “reverenciar e venerar”, isto é,
basta uma busca rápida por qualquer dicionário que poderemos constatar que
esses dois verbos teoricamente significam a mesma coisa. Essa igualdade
de valores faz com que muitos “crentes” de outras confissões questionem as
praticas de católicos e ortodoxos no que tange a veneração dos santos, Maria e
as sacras imagens e relíquias.
Pensando pelo lado técnico dos termos, teríamos que
concordar que ambas as palavras podem ser usadas para definir a mesma ação,
entretanto temos que entender que o uso de palavras para adequar a determinadas
praticas nem sempre se enquadram ao mover do coração. E o que quero dizer isso?
É muito simples, o ato de adorar consiste na contrição interna do coração em
declarar que Deus é o Salvador do mundo e assimilar que todas as coisas foram
feitas por ele, com ele e para ele e tudo isso para sua honra e glória. E
venerar? A veneração é o respeito, o amor, e a prestação de honra por aqueles
que antes de nós se entregaram pela fé em Cristo Jesus.
Pois bem, se as palavras podem significar a mesma
coisa, como podemos saber que não estamos adorando outra pessoa que não seja o
Senhor do universo? Bom, aqui, temos que pensar naquilo que o nosso coração
está exaltando. Explico. Eu amo a Deus, assim como amo minha família, a
diferença que amo a Jesus mais que tudo enquanto aos meus familiares, os amo,
mas não com a mesma intensidade que dedico o meu amor a Cristo.
Percebam que embora o verbo “amar” signifique nada
mais nada menos que “amar”, posso produzir intensidades que podem refletir o
que verdadeiramente quero, isto é, quando Amo a Deus, o adoro e quando amo meu pai e minha mãe, os venero. O termo é o mesmo e a palavra é igual, mas o
sentimento do meu peito é distinto.
Na epístola aos Romanos, o apóstolo Paulo ensina que o
amor entre os membros do Corpo de Cristo deve ser fraternal e que devemos
prestar honras uns aos outros (Rm 12,10),
assim como o mesmo Paulo diz que o primeiro mandamento com a promessa é “Honrar
Pai e Mãe” (Ef 6,2). Entretanto
lemos no livro de João 5,23 que
todos devem prestar honras ao Filho e ao Pai, agora, se pensarmos que honrar
significa (de acordo com os dicionários) a mesma coisa que venerar, deveríamos
pensar que não poderíamos honrar outro que não fosse Deus, porém, Paulo diz:
“Honrem uns aos outros”! E como podemos separar essa honra? Da mesma forma como
separamos a adoração e veneração, do amor a Deus e do amor aos homens: com a
intensidade do coração!
Às vezes, muitos pensam que celebrar a vida de algum
santo é idolatria, já que veneramos sua memória, mas se esquecem de que durante
séculos a Igreja sempre incentivou essa pratica. É comum que os poucos
entendidos queiram colocar condições iguais para “palavras” sendo que todos nós
sabemos que o único que pode diferenciar a adoração de uma reverência somos nós
mesmos! Quantos patriarcas do velho testamento se prostraram sobre terra
perante homens e não os idolatraram (Js
7,6 / Ex 18,7 / Gn 27,29 / Is 45,1-14 / Gn 33,3 / Gn 37,9 / Gn 49,8)?
E quantos fizeram os mesmos atos de prostração e trocaram a adoração única a
Deus para idolatrar anjos, imagens e até homens (Ap 22,8-9 / Ex 32,4 / At
10,25-26)! Se existe apenas uma forma de se dobrar os joelhos, como
diferenciar que a razão não é a mesma? A única forma é separar o direcionamento
emocional de dentro do seu coração! Todos nós podemos fazer isso! Alias, nós
vivemos a fazer essa diferenciação em todo o nosso cotidiano!
É interessante dizer que muitos “cristãos” acreditam
que a idolatria consiste em cantar uma música em memória de alguém ou solicitar
a intercessão tão pregada pela Igreja, mas se esquecem de que o verdadeiro
culto que afirma se estamos adorando ou não, é o culto que vem de dentro do
coração e a intenção que ele reflete!
Isto é, posso Amar a Deus e a meus familiares,
entretanto posso diferenciar que o culto que meu coração presta ao Senhor é de
adoração e que o culto de amor que presto aos meus familiares dedicando meu
tempo, meu carinho e minha vida são de puramente veneração.
Assim queridos irmãos, quero apenas dizer que sim,
existe diferença entre adorar e venerar, mas, quem colocará essas palavras em
diferentes níveis do entendimento da fé e razão, sou eu, você, somos nós!
A paz do Senhor para todos os que estão em Jesus
Cristo.
Érick Gomes.