I Cor 14,33 – “Porque Deus não é Deus de
confusão, senão de paz, como em todas as Igrejas dos Santos”.
INTRODUÇÃO
O anarquismo nunca foi matéria de fé, nem para judeus e tampouco para cristãos. Deus não traz a confusão e sim, a ordem. Estabelece,
cria, forma e julga as necessidades do povo, através de chefes que levam a sua
palavra e se transformam em “oráculos” vivos do Senhor. Desde a criação, o
criador sempre escolheu pessoas que estivessem à frente de seu povo e que
possuíssem a missão de levar cada pessoa, ao pleno conhecimento da verdade. O
povo israelita, que nos antecedeu, foi acostumado a possuir líderes enérgicos
que fossem seus intermediadores e que os representasse perante Deus e perante
as nações que os rodeavam. Desde o início dos relatos bíblicos, lemos sobre
homens e mulheres que tomaram a frente e conduziram a todos pelos caminhos
corretos. Atualmente, é muito comum que muitos cristãos de outras confissões aleguem
que o único “líder” de suas comunidades é Jesus Cristo. Simplesmente, expurgam
a possibilidade de uma liderança terrena que fale em nome de Deus e como se não
bastasse, caracterizam-na como errada, por acreditarem que tal conceito rouba a
centralidade do Senhor.
A ideia do presente texto é demonstrar através das
sagradas escrituras, que desde a mais antiga era registrada nas sagradas
letras, o povo israelita era guiado por “alguém” que demonstrava liderança
ativa em dirigir homens, mulheres e crianças na unidade do amor de Deus e que essa
continuidade se faz presente através dos apóstolos e do ministério petrino que
rege a Igreja através dos séculos.
Pr 16,10 – O
oráculo pelas sortes está nos lábios do rei, num julgamento, sua boca não
falha.
LÍDERES NO VELHO
TESTAMENTO
NOÉ: DE SUA LIDERANÇA, NASCE UM
NOVO POVO
O Senhor criou a raça humana, para que cada um fosse a
“imagem e semelhança de Deus” (Gn 1,26).
Essa semelhança, não consistia em uma mera aparência física e sim, uma
aparência espiritual, porém, as sagradas escrituras narram que o homem
corrompeu-se com o pecado (Gn 3,1-22)
e essa queda, ocasionou desgraças em muitas gerações posteriores. A maldade
instalada no coração humano era tão grande, que excitou a ira de Iahweh ao
ponto de Deus querer “desaparecer com a criação” (Gn 6,7). Nessa era hostil onde homens e mulheres se destruíam pela
corrupção do pecado, o Senhor levanta um homem chamado Noé, que lideraria toda
a sua família e toda a criação em busca da salvação para repovoar a terra. Noé, a mando de Deus, constrói uma arca (Gn 6,13-22) onde abriga sua família e
todos os animais (Gn 7,13-16).
Iahweh envia um dilúvio e faz desaparecer toda a raça humana que estava
destruída pelo pecado da carne (Gn
7,21-22).
Ao sair da arca, a família de Noé dá continuidade à
vida humana. Deus os abençoou dizendo: “Sede
fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra” (Gn 9,1). A partir desta narração, o “primeiro líder” de um povo que
ainda nasceria, passaria a ser peça importante da cultura judaica. Por fim,
Deus estabelece a sua aliança com Noé (Gn
9,12) e com toda a carne que existe sobre a terra.
ABRAÃO, ISAAC E JACÓ: OS PATRIARCAS
DE UMA NOVA NAÇÃO
O patriarcado mais primitivo e importante de toda a
história judaica, sem dúvida, encontra-se na vida de três homens que deram
início a uma nação que viria a se tornar um reino poderoso. O primeiro deles, Abraão
(inicialmente chamado de Abrão) foi convidado por Deus a deixar toda a sua casa
para ser imigrante em terras desconhecidas. De Abraão, Iahweh prometeu que
nasceria um grande povo (Gn 12,1),
bastaria olhar para o céu e ver que a quantidade de estrelas, representariam a
posteridade desse homem (Gn 15,4).
De sua relação com Sara, nasceria Isaac, o filho da promessa (Gl 4,23) e de Isaac, nasceria Jacó (Gn 25,26), que futuramente seria
chamado de “Israel” (Gn 43,11). De
Jacó, nasceram doze filhos e a partir deles, teremos as doze tribos de Israel. Essas
tribos seriam tradicionalmente conhecidas por povoar toda a terra de Canaã.
MOISÉS: O LÍDER LIBERTADOR
Moisés, nascido da casa de Levi (Ex 2,1), foi um dos líderes mais
proeminentes do povo hebreu. Deus se manifestou de forma grandiosa em sua vida.
O homem que nasceu para libertar seu povo, foi concebido em uma época onde
todos os meninos eram mortos por ordens do Faraó (Ex 1,22), entretanto, sua missão já estava desenhada, uma vez que
sua própria mãe, na iniciativa de protegê-lo, o colocou em uma arca as margens
do rio (Ex 2,3) até que chegasse a
filha do faraó (Ex 2,5) que o
adotaria e cuidaria de que fosse formado na corte egípcia (Ex 2,10). Quando Moisés já estava longe de sua terra de criação
devido à morte de um homem (Ex 2,12),
Iahweh se fazia presente manifestando-se de diversas formas. O primeiro contato
de Deus que marcaria o início de sua liderança, deu-se através de uma sarça que
ardia em fogo, mas, não queimava (Ex 3,2).
O Criador concedeu todas as forças necessárias para Moisés, mesmo ele tendo medo
e confessando que sua língua era “pesada” (Ex
3,10). Moisés não se considerava eloquente e muito menos apto a assumir um
fardo tão cansativo, mas, sua vocação estava respaldada pelo poder do próprio
Deus que com um gesto de amor afirmou que “Seria
a própria boca de Moisés e que o ensinaria no que falar” (Ex 4,12). A presença de Deus na vida
desse grande homem foi importantíssima para o povo hebreu, que viu em Moisés, o
libertador e intermediário entre eles e o Senhor (Ex 4,30-31). A Lei, seguida rigorosamente pelos
Judeus, foi transmitida por ele (Dt
4,44; Jo 7,19)
JOSUÉ: O LÍDER DA TERRA PROMETIDA
Josué foi o predecessor de
Moisés. Junto de Caleb, foram os únicos a acreditar que o povo hebreu poderia
entrar na terra prometida (Nm 14,7-9).
Após a morte de Moisés (Dt 34,5),
Josué foi o homem escolhido por Iahweh para guiar seu povo na trajetória que
terminaria nas terras de Canaã (Js 1,1-5).
Todo o relato bíblico da história de Josué, procura salientar que mesmo antes
do sistema monárquico israelita, o povo já era guiado por um único chefe.
Esse chefe, não representava um simples líder político, como vemos na partilha
das terras entre as tribos (Js 13-21)
e sim, um líder espiritual (Js 23,14)
e dotado do poder de Iahweh nas tomadas de decisões (Js 24,1-13). Josué foi o
responsável por levar os hebreus à verdadeira adoração ao único Deus (Js 24,21-24).
OS JUÍZES
Antes do estabelecimento de um
“reino unificado” ou da “monarquia”, por diversas vezes, o povo israelita
infligiu o verdadeiro culto à Iahweh, trocando-o pelas divindades cananéias. Ao
acontecer tais fatos, por vontade divina, o povo era entregue aos inimigos
estrangeiros. A situação era revertida somente quando os hebreus se arrependiam
de seus atos e voltavam ao verdadeiro Deus. Mediante a isto, era escolhido um
“Juiz” que inicialmente levava o povo a uma vitória militar sobre os opressores
e após o período de bonança, reinava sobre toda a Israel. A narrativa bíblica
identifica seis juízes maiores, onde a história é narrada de uma forma mais
detalhada (Otoniel, Aod, Barac (e
Débora), Gedeão, Jefté e Sansão) e seis juízes conhecidos como menores,
onde existe uma breve descrição (Samgar,
Tola e Jair, Abesã, Elon e Abdon).
SAMUEL: O ÚLTIMO JUIZ
Samuel, nascido de uma estéril
chamada Ana (I Sm 1,5) e consagrado
desde o dia do seu nascimento (I Sm 1,28),
foi o último dos Juízes de Israel. Graças
a sua intercessão, Samuel, visto pelo povo como libertador de Israel (I Sm 7,8), obteve os méritos juntos de
Iahweh pela vitória contra os filisteus expulsando-os do solo israelita (I Sm 7,13). Com o apoio de Deus, julgou
Israel durante todos os anos da sua vida (I
Sm 7,15) e representou parte decisiva na história da instituição da realeza
monárquica (I Sm 8-12). Samuel ungiu
os dois primeiros reis do reinado unificado: primeiro a Saul (I Sm 10,1) e depois a Davi (I Sm 16,13). Ao falecer, toda a casa de Israel guardou seu
luto (I Sm 25,1).
O REI DAVI
Davi, ungido por Samuel (I Sm 16,13), foi o segundo rei a
comandar toda a casa de Israel. Proeminente em sua vocação, foi depois de
Moisés, o herói mais destacado do povo Hebreu. Jesus Cristo, rei e salvador do
mundo, fazia parte de sua descendência (Mt
1,6). Davi foi o responsável pela tomada de Jerusalém contra os jebuseus (II Sm 5,6). Se apropriando da cidade,
junto do povo, posteriormente, Jerusalém seria conhecida como a “cidade de
Davi” (II Sm 5,9). Transformou
Jerusalém em capital religiosa ao transportar a arca da aliança para o lugar
que futuramente seria construído o templo do culto judaico (II Sm 6, 1-23). Sua realeza era exaltada
por Iahweh e todo o povo o reconhecia como um grande homem perante o Senhor dos
exércitos (II Sm 5,10). O Rei Davi obteve vitórias sobre os filisteus
(II Sm 5,17-25) e sobre os arameus (II Sm 8,13). Reinou sobre todo o povo
de forma justa, exercendo o direito de participar da linhagem messiânica. Dos 150 salmos escritos, 73 são atribuídos com
a autoria de Davi, Rei de Israel.
O REI SALOMÃO
Filho de Davi e Rei após a morte
de seu pai, Salomão amou a Iahweh e em tudo seguia os preceitos deixados por
seu predecessor (I Rs 3,3).
Conhecido por ser o patrono da sabedoria, de acordo com as escrituras, o Senhor
concedeu a Salomão um coração sábio e inteligente para discernir entre o bem e
o mal (I Rs 3,8-12). Seu reinado foi
marcado por um período onde Judá e Israel viveram um tempo de paz e segurança.
A fama do Rei Salomão se espalhou por todas as nações circunvizinhas e nunca,
em toda a terra foi encontrado homem com tamanha sabedoria (I Rs 5,11). Foi o responsável por
construir o templo de Jerusalém, onde se tornou o centro do culto religioso
judaico (I Rs 6-8). Por toda a sua
sabedoria, alguns livros foram considerados seus escritos, tais como
“Sabedoria”, “Provérbios”, “Cântico dos Cânticos” e “Eclesiastes”. De acordo
com o livro de reis, Salomão pronunciou três mil provérbios e seus cânticos foram
em números de cinco mil (I Rs 5,12).
ESDRAS E NEEMIAS: A LIDERANÇA
PÓS-EXÍLIO
Após a liberdade concedida aos
hebreus por Ciro, rei da Pérsia (II Cr
36,22-23) em 538 a.C, os judeus foram autorizados a retornar para Judá e
dali, iniciar a reconstrução do templo de Jerusalém (Esd 1,1-11) que havia sido destruído pela invasão babilônica por
volta do ano 601 a.C. (II Rs 24,10-17).
Embora o decreto estivesse oficializado, as obras do templo foram barradas por
conta da oposição dos samaritanos (Esd
4,1-5), sendo que, só viria a ser concluído na época de Dario I em 515 (Esd 6,12). Esdras e Neemias, atuam
efetivamente na liderança do povo hebreu realizando uma reconstrução da
religião e da sociedade de Judá que lutava para manter sua essência no período
pós-exílio. Esdras era escriba e sacerdote da lei de Deus (Esd 7,12) e ao retornar para Jerusalém, tinha uma única missão:
ensinar toda a Israel a repraticar os estatutos e normas da lei de Iahweh (Esd 7,10). Esdras foi o responsável por
oficializar a quebra do matrimônio misto entre judeus e mulheres de outros
povos (Esd 9,1-15) e marcou a
história vétero-testamentária ao sacramentar a raça judaica como “pura”
afastando outras etnias de suas relações pessoais (Esd 10,1-44). Já Neemias, era copeiro do Rei Artaxerxes, conquistou
a missão de ir até a cidade santa para auxiliar na construção das muralhas de
Jerusalém, sendo que as obras, finalizaram rapidamente e a cidade é enfim
repovoada (Ne 7,72). Neemias se
torna governador de Judá (Ne 5,14) e
uma de suas últimas ações é restabelecer as normas da lei, já promulgada por
Esdras (Ne 13,4-31).
OS MACABEUS
Na iniciativa de obter a
liberdade religiosa e política do povo judeu contra os selêucidas, uma família
levantou-se em pró dos israelitas para assim, conquistar os direitos tão
desejados. O principal herói da história é Judas, seguido por seus irmãos,
chamados de “Macabeus”, devido ao sobrenome. Judas Macabeu liderou os judeus em
campanhas vitoriosas, sendo que após a sua morte (I Mc 9,19-22), seus consanguíneos lhe sucederam, primeiro por
Jônatas, chefe e sumo sacerdote (I Mc
9,30-31) e após sua morte, por Simão, etnarca (líder de uma etnia) de todo o povo judeu (I Mc 13,8).
A LIDERANÇA NO NOVO
TESTAMENTO
FUNDAMENTO APOSTÓLICO
Ef 2,20 – Estais edificados sobre o fundamento dos
apóstolos e dos profetas, do qual é Cristo Jesus a pedra angular.
Como foi visto até aqui,
anteriormente a vinda de Cristo, o povo hebreu possuiu inúmeros líderes que os
levaram ora ao conhecimento da lei, ora as praticas corretas de sua
religiosidade, ora a uma vida intima com o Senhor dos céus (II Cr 36,23). Jesus Cristo adentrou ao
mundo para a salvação da humanidade e para isso, deixou uma única Igreja que
teria a responsabilidade de firmar preceitos, normas, condutas e doutrinas para
que, confirmando o povo na fé viva do Salvador, peregrinasse através do mundo,
levando o evangelho e o conhecimento de que o messias já havia chegado. Diferente
do que muitos pensam, a Igreja não se instalou em regime anárquico, onde cada
um seria dono de sua verdade e regido por seus próprios pensamentos. Ao
contrário disto, a comunidade primitiva nomeou diáconos (I Tm 8-13), bispos (I Tm 3,1),
presbíteros (Tg 5,14) para que
assim, existisse uma continuidade dos ensinos e assim, como no passado, o povo
de Deus fosse guiado em um único pensamento.
Chamamos de fundamento apostólico
toda a doutrina deixada por nossos pais e transmitida através dos séculos por
nossos pastores, seja pela tradição da Igreja ou pela escritura sacrossanta. É
por esse motivo, que Paulo ao escrever a Timóteo, usa estas palavras:
I Tm 3,14-15 – Escrevo-te estas coisas esperando
encontrar-te dentro em breve. Todavia, se eu tardar, saberás como proceder na
casa de Deus, que é a Igreja do Deus vivo: coluna e sustentáculo da verdade.
SÃO PEDRO: O PRÍNCIPE DOS
APÓSTOLOS
O primado Petrino foi
estabelecido pelo próprio Cristo, para que assim, a Igreja possuísse um líder
que pastoreasse o povo de Deus. Assim como outrora, o povo israelita possuía
juízes, reis e escribas que os guiavam, a cátedra de Pedro foi deixada para os
cristãos. Um legado que sobrevive até os nossos dias, através da tradição que
também é o sustento da comunidade católica em todo o mundo.
CONCLUSÃO
Desde a mais antiga era, o povo
do Senhor tem sido guiado por líderes, que com fé no Deus dos céus, tem levado
os escolhidos ao conhecimento da verdade. A nação israelita, predecessora dos
cristãos, chegou até nós com os mais belos exemplos de virtude e liderança.
Encontraram em Moisés, Josué, Samuel, Davi, homens que os confirmariam na fé a
ser seguida. A Igreja seguiu esse exemplo, firmando um líder, que aqui na
terra, tem o poder de “ligar e desligar”, sendo que tal dádiva pastoral, foi
concedido pelo único Rei dos Reis, Jesus Cristo, nosso salvador.
Paz e bem a todos!
Érick Gomes.