“A fé de todos
os cristãos consiste na trindade” (S.Cesário de Arles; Expositio Sympoli [sermo 9]:
CCL 103,48).
O mistério
da Trindade é a verdade central da fé de todo cristão. Para entender todo o
corpo doutrinário dos conceitos católicos é necessário que, antes de tudo,
tenha-se conhecimento do que é a Trindade para nós. O catecismo ensina em seu
parágrafo 234 que a trindade é o
“mistério de Deus em si mesmo”:
“É o mistério (trindade) de Deus em si mesmo. É, portanto, a
fonte de todos os outros mistérios da fé, é a luz que ilumina. É o ensinamento
mais fundamental e essencial na ‘hierarquia das verdades da fé’”.
A trindade
não é a crença em três deuses e sim, em um único Deus que relaciona-se consubstancialmente em três pessoas: O Pai, o Filho e o Espírito Santo. Atualmente, é muito comum que cristãos
heterodoxos professem essa crença de forma natural, entretanto, é importante
salientar que o dogma da trindade não está exposto claramente nas sagradas
escrituras e que por esse motivo, coube a Igreja Católica, guiada pelo Santo
Espírito, em formular o dogma trinitário, uma vez que, a fé primitiva sofria
constantemente com erros que a deformariam e a Igreja como testemunha do
Senhor, sempre teve como missão defender a ortodoxia católica. Com a ajuda dos
antigos Padres e através de dois concílios (Nicéia [325] e Constantinopla
[381]) é que se afirmou e conservou a expressão de que o “filho é
consubstancial ao Pai”.
Sendo assim,
é de inteira responsabilidade da fé católica a propagação do dogma da trindade.
Se você está lendo esse texto e não é católico, acredite, você crê em um dogma
confirmado pela Igreja. Isto é, se as escrituras não ofereceriam o total respaldo
para afirmar a crença, como poderíamos encontrá-la na bíblia? Pois bem, sabemos
que ao lermos determinadas passagens, podemos encontrar alguns textos que nos
concedem a tranquilidade para crer que o Pai, o Filho e o Espírito Santo compõem uma única essência.
Descubra aqui, três passagens do velho testamento e cinco passagens
do novo que reforçarão a sua fé na santíssima trindade.
A TRINDADE NO VELHO TESTAMENTO
A ideia de
trindade no períodovétero-testamentário, em um primeiro momento é quase nula.
Grande parte dos teólogos católicos e padres da Igreja antiga procuraram
atribuir ao Deus de Israel certa “pluralidade” para assim, aceitar que antes da
vinda de Jesus, Iahweh era de fato, o Senhor trino cultuado pelos cristãos. Uma
das obras fortemente usadas para comprovar a existência da consubstancialidade
das três essências é o livro de Gênesis, onde no ato da criação, ao que tudo
indica, Deus não está só e sim, relacionando-se com o “verbo” (Jo 1,1) e o “espírito santo” (Gn 1,2).
“Façamos”
Gn 1,26a – “Deus disse: ‘Façamos o
homem à nossa imagem, como nossa semelhança’”.
Neste
primeiro verso do gênesis onde existe a ordenança da criação do homem, notamos
aqui um “plural majestático”, isto é, o uso da primeira pessoal, só que no
plural. A palavra que define essa pluralidade hebraísta é “Elohim” que é
designada como o nome próprio do verdadeiro Deus. Embora a passagem não
diga que de fato, existiam “três pessoas” em um único Deus, os primeiros
padres da Igreja já enxergavam aqui o mistério da Trindade.
“Um de nós”
Gn 3,22a – “Depois disse Iahweh Deus: ‘Se o homem já é como um de nós’”.
Após a
queda, o homem torna-se igual a Deus por obter para si o conhecimento do “bem e
do mal” e neste verso, mais uma vez, lemos Deus utilizar-se de um pluralismo
para indicar a manifestação de que não está só em sua obra: “o homem já é como
um de nós”.
“Vinde! Desçamos!”
Gn 11,6-7 – “E Iahweh disse: ‘Eis que todos constituem um só povo e falam uma só
língua. Isso é o começo de suas iniciativas! Agora, nenhum desígnio será
irrealizável para eles. Vinde! Desçamos!
Confundamos a sua linguagem para que não mais se entendam uns aos outros’”.
A torre de
babel foi um evento onde o povo de forma errônea, desafiou a soberania de Deus ao
acreditar que poderiam realizar uma construção que chegasse ao céu (Gn 11,4) e assim, todas as nações seriam
reunidos ao seu redor. A fim de, eliminar as obras humanas, Iahweh confunde as
línguas de toda a face da terra e assim, dispersa-os. Nesta passagem,
notamos que há novamente a pluralidade das pessoas e embora o verso seis apenas
diga que “Iahweh” ordenou a ação, lemos que no verso sete, ao descer para
confundir as línguas, os dois verbos escritos (vir e descer) são mencionados no
plural. Nestes versos, conseguimos visualizar, ainda que primitivamente, a comunhão
trinitária.
A TRINDADE NO NOVO TESTAMENTO
Jesus Cristo
ao nascer da virgem Maria, consumiu a promessa pregada pelos antigos profetas.
Ao dizer que o salvador de Israel viria ao mundo para endireitar os caminhos de
seu povo (Is 7,14-17; Mq 5,1-3) os homens do antigo
testamento já testificavam que um grande rei surgiria para a salvação do gênero
humano e esse rei foi encontrado na pessoa de Jesus. É esse Jesus que foi revelando-se
como o único Deus. Com a exceção de Pedro, que declarou a sua divindade (Mt 16,16), os demais escritores
passaram a entender que após a ressurreição, o próprio Senhor crucificado era de
fato o Deus de Israel.
“Deus conosco”
Mt 1,23 – “Eis que a virgem conceber e dará à luz um filho e o chamarão com o
nome de Emanuel, o que traduzido significa: ‘Deus está conosco’”.
Jesus Cristo
foi anunciado profeticamente por homens de fé do antigo testamento. Ao chegar à
plenitude dos tempos (Gl 4,4-5), as
escrituras concretizaram-se e o messias foi anunciado mediante a aparição do Anjo
Gabriel a Maria Santíssima (Lc 1,26-27).
Inicialmente, José não acreditou no milagre e sendo justo, resolveu repudiar a
virgem secretamente, entretanto, o Anjo do Senhor apareceu em sonho a ele dizendo
que não temesse, pois, aquele que nasceria, salvaria o povo de seus pecados,
sendo assim, a palavra dirigida a Isaías estaria cumprida no projeto salvador
do Pai, mediante o Cristo que é o verdadeiro “Emanuel”, o próprio Deus conosco.
“Batizar em nome da
Trindade”
Mt 28,19 – “Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos,
batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.
A fórmula
batismal que hoje é realizada na Igreja tem a sua origem nos evangelhos. Esse
registro que afirma que devemos ser batizados em nome do “Pai, Filho e Espírito Santo” reflete o pensamento primitivo das
primeiras comunidades que já entendiam, mesmo que de forma tímida, a unidade
das três pessoas que compõem a trindade. O primeiro sacramento que inicia-nos
na fé é o batismo e é através da trindade, anunciada sobre o nosso corpo e
mediante a água derramada é que podemos assumir sobre si o nome de cristãos.
“O verbo era Deus”
Jo 1,1 – “No princípio era o Verbo e
o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus”.
O
evangelista João em seus escritos, enfatiza a verdade da divindade de Jesus.
Ele (Cristo) não foi um simples homem, ou um simples profeta e sim, o próprio
Deus (Mt 1,23). A encarnação se dá
mediante a palavra, isto é, mediante ao verbo de Deus que era e continua sendo
Deus, se fez carne para a salvação do gênero humano. No primeiro verso de seu
evangelho, João nos remete ao início da criação, onde Deus usa da palavra
(façamos) para moldar do barro o ser humano. A teologia do apóstolo afirma que
desde o início, Jesus é a palavra viva de Deus e que Ele é o próprio Deus.
“Somos um”
Jo 10,29-30 – “Meu Pai, que me deu tudo, é maior que todos e ninguém pode arrebatar
da mão do Pai. Eu e o Pai somos um”.
No momento
da festa da dedicação (I Mc 4,59; Jo
10,22), os judeus rodearam a Cristo, a fim de obter dele o anuncio formal
de que Ele seria verdadeiramente o messias (Jo 10,24). Nosso Senhor responde de forma dura, afirmando que,
“suas obras testificam” a sua missão e que eles não creem, pois, não fazem
parte de suas ovelhas. Ao fim do seu discurso, Jesus afirma sua divindade
dizendo que “Ele e o Pai são um”. É muito provável que as pessoas que ali
estavam, tenham entendido a profundidade das palavras do Cristo, ao afirmar seu
ser divino, tanto que, queriam apedrejá-lo por blasfêmia (Jo 10,33).
“A benção
apostólica”
II Cor 13,13 – “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do
Espírito Santo estejam com todos vós”.
O apóstolo
Paulo ao finalizar a sua segunda carta aos cristãos de Corinto, usa uma fórmula
trinitária para abençoar todos os crentes. Essa benção estendeu-se a toda a
Igreja, fazendo dela, uma grande fonte da base argumentativa ao afirmar a
doutrina da trindade. O Pai, o Filho e o Espírito Santo atuam em toda a
comunidade com um poder único (I Pd 1,2).
CONCLUSÃO
I Jo 5,7 – “Porque três são os que testemunham”.
Não há uma
meia verdade, há apenas uma. A Igreja Católica, a quem Deus confiou à fé
universal (Mt 16,18 – Rm 1,8 – I Tm 3,15) na intenção de afirmar
aquilo que é real, defendeu o mistério da trindade como verdade irrefutável.
Assim como a
Tradição Apostólica, as Santas Escrituras dão o testemunho daquilo que cremos e
daquilo que adoramos.
Paz e bem a
todos!