terça-feira, 1 de dezembro de 2015

DEUS NÃO DIVIDE A SUA GLÓRIA?


INTRODUÇÃO 

Eclo 44,1-2 – “Façamos o elogio dos homens ilustres, que são nossos antepassados, em sua linhagem. O Senhor deu-lhes uma glória abundante, desde o princípio do mundo, por um efeito de sua magnificência”.

Dentre os assuntos polêmicos que constam na pauta dos não católicos, está à questão da veneração dos santos, tão defendida por nós e tristemente escrachada por parte daqueles que por falta de compreensão da fé católica, deixaram para trás, uma tradição primitiva que nasceu na própria Igreja fundamentada na doutrina apostólica (Ef 2,20). Nós que somos crentes, diariamente convivemos com a ironia daqueles que dizem que “Deus não divide” a sua glória e por esse motivo, atribuem o culto de hiper dulia/dulia a um costume alheio a verdade, porém, se a Igreja Católica, guiada pelo Espírito Santo a dois mil anos, incentiva a veneração desde os primórdios, como entender essa prática, sem correr o risco de glorificar a criatura e não o criador? 

Nós, como católicos, sabemos que toda “honra, glória e louvor” é exclusiva ao Deus todo poderoso. É isso que cantamos nas missas, no momento em que entoamos o nosso hino de louvor:

“Glória, glória, anjos do céu, cantam todo o seu amor e na terra homens de paz, Deus merece o louvor”.

Sendo assim, como entender a veneração dada aos santos e a Maria Ss? Será que erramos ao louvarmos os servos de Deus? 

Analisemos as escrituras, para assim, descobrirmos que a prática de veneração na Igreja Católica, vem dos próprios escritos neo-testamentários.  

A GLÓRIA QUE NOS É DADA (VINDA DO PRÓPRIO DEUS)

A glória de Deus jamais deve ser dividia. Essa glória consiste em seu senhorio de poder, de Rei e de Criador. É necessário entender que dar a glória a criatura, como se essa fosse uma divindade, é uma ato de idolatria e de profanação dos mistérios sagrados. O povo de Israel, por diversas vezes cometeu esse pecado: trocar a glória de Deus por uma criatura ou um objeto.

Sl 105,19-20 – “Fabricaram um bezerro de ouro no sopé do Horeb, e adoraram um ídolo de ouro fundido. Eles trocaram a sua glória pela estátua de um touro que come feno”.

Esse erro, característica de povos pagãos que não cultuam um único Deus é a compreensão total do que podemos afirmar que o “Senhor jamais dividiria a sua glória”. Acreditar que qualquer coisa que não seja Deus, possa ser maior que Ele, é transferir a glória do criador para a criatura. Isso é condenável.

Por outro lado, sabemos que glorificar a criatura, sabendo que ela continua sendo uma criatura e entendendo que o próprio Senhor atua nessa criatura, sendo o seu único Deus, faz-nos entender o que a Igreja e as escrituras ensinam sobre os atos de veneração.

Podemos encontrar esse exemplo, ainda no velho testamento. Como já citado, os judeus trocaram a glória de Deus por um objeto, na intenção de adorá-lo como se isso (objeto) fosse o próprio criador, em contra partida, lemos no livro de Crônicas que o profeta Jeremias, compôs uma lamentação para o Rei Josias, simplesmente porque esse rei restituiu as coisas sagradas para o povo hebreu, relembrando assim a existência de um único Senhor:

2 Cr 35,25-26“Jeremias compôs uma lamentação fúnebre sobre ele (Josias). Todos os cantores e todas as cantoras falam ainda de Josias em suas lamentações; é este um verdadeiro costume em Israel. Esse cantos fúnebres figuram no livros da lamentações”. 

Deus atuou por meio do Rei Josias e após a sua morte, carinhosamente, o povo continuava a lembrar-se de seus atos em favor de toda a nação e por esse motivo, compôs um cântico fúnebre que além de ser entoado, tornou-se costume. Os hebreus não trocaram a glória de Deus e a colocaram no Rei já morto, ao contrário, glorificaram a vida de Josias, na intenção de glorificar o próprio Senhor.

Até o próprio Cristo, segundo o evangelho de São Mateus, afirma que em Salomão havia “glória”:

Mt 6,29 – “E eu vos digo que nem mesmo Salomão, EM TODA A SUA GLÓRIA, se vestiu como qualquer deles”.

Olhando para o novo testamento, percebemos que em diversas passagens, Jesus Cristo afirma que nós “devemos estar nEle” e que a glória de Deus Pai, dada ao Deus filho, foi ENTREGUE  a todos os seus filhos a fim de que nós todos sejamos um.

É isso que São João escreve em seu evangelho:

Jo 17,21-23a – “Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também ELES ESTEJAM EM NÓS e o mundo creia que tu me enviaste. DEI-LHES A GLÓRIA QUE ME DESTE, para que sejam um, como nós somos um: EU NELES e tu em mim”.

Isto é, o primeiro a glorificar os santos, foi o Cristo ao afirmar que Ele próprio, nos deu a glória que habitava nele. Dar essa glória, não significa que “somos maiores que Ele” e sim, que somos coparticipantes de sua realidade de salvação. Não éramos nada até então, porém, com o advento de Cristo e com a passagem pelas águas (batismo), passamos a ser filhos de Deus e integrantes de seu Reino de Glória.

Se o próprio Jesus afirma que todo aquele que o serve o “Pai o honrará” (Jo 12,26), por que nós deveríamos ter receio de honrar as criaturas de Deus, uma vez que, verdadeiramente estamos glorificando a Deus, pela vida de tantos irmãos e irmãs que anteriormente a nós, sofreram por amor ao Cristo?

Nós que somos chamados a servir ao Senhor, além de justificados, também somos glorificados:

Rm 8,30 – “E os que predestinou, também os chamou; e os que chamou, também os justificou, e os que justificou, TAMBÉM OS GLORIFICOU”.

A Igreja é um misto de pecadores e santos e todos nós, somos chamados a viver a santidade e a imitar os atos daqueles que foram nossos mestres na fé. Quando louvamos um servo de Deus, não estamos dividindo a glória do Altíssimo com a criatura e sim, glorificando ao próprio Cristo, que por meio do homem, continua realizado a sua obra de salvação. O escritor da epístola aos Hebreus, deixa claro que nós devemos lembrar e imitar nossos guias:

Hb 13,7 – “Lembrai-vos de vossos guias que vos pregaram a palavra de Deus. Considerais como souberam encerrar a carreira e imitai-lhes a fé”.

A “glória que nos é dada” continua sendo motivo de amor para que assim, possamos prosseguir em nossa caminhada cristã. Louvar os santos é louvar ao próprio Deus que operou milagres através de tantas vidas. Não estamos aqui, dividindo a glória de Deus, ao contrário, estamos exaltando o poder do Senhor, através da vida dos santos.

São Paulo aos romanos, insiste em dizer que como herdeiros de Deus, seremos glorificados com ele (Rm 8,17). É por isso que sem qualquer receio de “dividir a glória de Deus”, o apóstolo manifesta que todo aquele que faz o bem, deve ser honrado e glorificado.

Rm 2,10a – “GLÓRIA, HONRA e paz para todo aquele que pratica o bem”.

Assim como ao escrever aos Tessalonicenses, o mesmo Paulo afirma que por meio do evangelho, nós tomamos parte na glória de Jesus.

2 Ts 2,14 – “E por meio do nosso Evangelho vos chamou a TOMAR PARTE NA GLÓRIA de nosso Senhor Jesus Cristo

Se dissermos que a glória (não no sentido de adoração e sim, como honra, respeito e veneração) atribuída à outra pessoa, seria um ato de sacrilégio, teríamos que retirar diversos escritos do novo testamento que fazem referências claras a glória dos santos. Quantas vezes, em nossa caminhada cristã, não ouvimos a seguinte frase: “Não podemos atribuir a glória a si mesmo ou a ninguém, já que a glória é só de Deus”.  A frase em si, não está errada, porém, se entendermos que essa glória está intimamente ligada ao projeto do Senhor, entenderemos que nós também tomamos parte dela.

É isso que São Paulo continua ensinando a todas as Igrejas que ele escreve.

Ele ensina aos Romanos que a vida eterna é para aqueles que visam à glória e a honra:

Rm 2,7-8 – “A vida eterna para aqueles que pela constância no bem VISAM À GLÓRIA, à HONRA e à incorruptibilidade; a ira e a indignação para os egoístas, rebeldes à verdade e submisso à justiça”.

Aos Coríntios, ele pede para que todo aquele que se gloriar, glorie-se no Senhor. O próprio apóstolo, diz se gloriar nos irmãos, mediante ao amor do salvador:

1 Cor 1,31 – Para que, como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor”.

1 Cor 15,31 – “Eu protesto que cada dia morro, gloriando-me em vós, irmãos, por Cristo Jesus, nosso Senhor”.

Aos Gálatas ele pede que antes que alguém se glorie por si só, examine a sua própria conduta.

Gl 6,4a – “Cada um examine a sua própria conduta, e então terá o de que se GLORIAR por si só”.

Por fim, o apostolo ao escrever a carta a Timóteo, solicita fraternalmente que nós, cristãos, concedamos o devido amor e respeito para com os homens. Além de solicitar a súplica, Paulo faz um pedido curioso: “façam ação de graça por todos os homens” (1 Tm 1,1).

A Igreja como guardadora da verdade, continua seguindo esse pedido com muito carinho. Assim como o escritor de Hebreus solicita que lembremo-nos de nossos guias na fé (Hb 13,7), assim como o apóstolo dos gentios, pede que façamos ações de graça por todos homens (1 Tm 2,1), assim nós, católicos, nos últimos dois mil anos, continuamos a honrar com muita veneração e piedade a virgem santíssima e todos os santos que anteriormente a nós, trilharam um caminho de santidade.

Sendo assim, dizer que glorificar Maria Santíssima e os Santos é um ato de “dividir a glória de Deus com a criatura”, não passa de sofisma. As escrituras são claras que o primeiro a glorificar os santos, foi o próprio Cristo (Jo 12,26 e Rm 8,20) e venerá-los é propagar a própria glória de Jesus, uma vez que, buscando a santidade, refletimos como um espelho a glória do Altíssimo.

2 Cor 3,18 – “Mas todos nós, com rosto descoberto, REFLETINDO COMO UM ESPELHO A GLÓRIA do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor”.

Paz e bem à todos!

Érick Augusto Gomes 














terça-feira, 3 de novembro de 2015

O CRISTO NA CRUZ


A cruz do Cristo é de fato, um dos grandiosos mistérios já vivenciados na história da humanidade. Foi através desse santo madeiro que o precioso sangue do “Deus-Homem”, foi derramado pela remissão e redenção de toda a humanidade. Embora, isso seja uma verdade de fé professada por todos os cristãos, há algumas linhas de pensamento que afirmam que o símbolo da crucificação, seria uma espécie de “maldição”, já que nos tempos apostólicos, tal pena era imposta para assassinos.

Embora a cruz, tenha sido o “último argumento de Deus”, é comum observarmos como algumas confissões cristãs possuem certo incomodo ao se deparar com uma imagem ou ícone que retrata a crucificação de Jesus. É certo que Cristo ressuscitou, sendo a primícia daqueles que morreram, mas, será que representá-lo pregado em um “madeiro” é contradizer as verdades bíblicas? Afinal, se Ele ressuscitou e agora a cruz está vazia, por que os católicos insistem em demonstrar um Jesus crucificado?

Para resolvermos essa questão, é importante entendermos que representar a Cristo em uma cruz é o dever de todo o cristão! Podemos verificar através da própria escritura, que nosso Senhor venceu a morte pela ressurreição, mas, foi em sua morte de cruz que tomou para si nossas enfermidades e pecados.

O profeta Isaías, ao relatar sua visão do “servo sofredor”, descreve algumas das dores que o salvador deveria passar, a fim de, resgatar toda a humanidade:

Is 53,5 – “Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados”.

Ao contemplarmos a cruz de Jesus, adoramos aquele que por suas pisaduras, trouxe-nos o caminho para alcançar o perdão de todos os nossos pecados.  O madeiro no qual o Cristo morreu, não se trata de um simples símbolo ou um amuleto, mas sim, um sinônimo de plena redenção. É incrível como muitos imaginam que a representação de Jesus crucificado é um escândalo, porém, se analisarmos esse acontecimento pela ótica bíblica, entenderemos que o próprio apóstolo Paulo, afirma que gloriar-se na cruz de Cristo é um motivo de alegria, pois, assim como ele (Jesus) morreu, nós, através desta mesma cruz, devemos morrer para o mundo (Gl 5,11).

Nunca devemos ser inimigos da Cruz (Fl 3,18) e sim, contemplá-la, pois, foi através dela (cruz) que o mundo foi reconciliado com o Pai eterno (Ef 2,16), mediante ao sacrifício do messias. É comum que alguns cristãos afirmem que “Jesus ressuscitou” e que a cruz deve ser representada de forma “vazia”, nós católicos, declaramos que o Cristo venceu a morte e vivo está, porém, não deixamos de seguir as palavras do apóstolo Paulo aos coríntios, onde ele afirma que sim, nós devemos pregar a Cristo crucificado:

1 Cor 1,23 – “Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos”.

Dessa forma, entendemos que representar a Jesus crucificado, concede-nos uma reflexão diária. A Igreja sempre viu no objeto da cruz e na representação do sacrifício do Senhor, uma fonte de animo e força, para todos aqueles que sofriam. É impossível olhar para a cruz e não enxergarmos as nossas misérias e ficarmos envergonhados dos nossos pecados, entretanto, sabemos e acreditamos que a cruz é o “poder de Deus”:

1 Cor 1,18 – “Por que a palavra da cruz é loucura para os que perecem, mas para nós, que somos salvos, é o poder  de Deus”.

Assim como a cobra erguida por Moisés, curou a muitos (Nm 21,8-9), importava que o filho do homem, também fosse levantado para nossa salvação (Jo 3,14).

Sendo assim, a Igreja Católica representa através de imagens, pinturas e ícones, o mistério mais precioso da paixão de nosso senhor e salvador, Jesus Cristo: A CRUZ.

Em Cristo Jesus;

Érick Augusto Gomes 

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

THEOTÓKOS (Mãe de Deus)


“E de onde me provém isto a mim, que venha visitar-me a MÃE DO MEU SENHOR?” (Lc 1,43)


Jesus é o próprio Deus encarnado, aquele que haveria de vir para redimir o gênero humano de sua maldade, o princípio e o fim, o alfa e o ômega (Ap 22,13). Ainda que primitivamente, o Cristo não fosse revelado aos homens como o próprio Deus (parte integral e perfeita da Trindade), é possível encontrar em alguns textos do novo testamento (e até mesmo do velho) indícios que a humanidade de Jesus, estava completamente inundada por sua divindade. Embora, na carta aos Hebreus, o escritor tenha mencionado com total clareza e verdade que o messias não poderia ter qualquer descendência (Hb 7,3), uma vez que era a própria divindade, a Igreja sempre acreditou, com base nos textos bíblicos, que a natureza que habitava no Senhor era do próprio Deus. João ao iniciar seu evangelho, concede-nos duas chaves interpretativas para desvendar esse mistério:


1 - No princípio (Gn 1,26), o verbo era o próprio Deus:
Jo 1,1 – “No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus”.

2 - O verbo (que era Deus) habitou no meio de nós:
Jo 1,14 – “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós e nós vimos a sua glória que ele tem junto ao Pai, como Filho único, cheio de graça e de verdade”.

O “verbo”, “palavra” ou o “logos” é o próprio Jesus, que enviado por Deus Pai (Jo 3,16), cumpriu a sua missão salvadora e concedeu-nos a oportunidade de termos a vida eterna. Cristo enquanto homem, também foi (é) Deus e a Igreja Católica, desde o início, entendeu essa unidade mística e misteriosa, chamando-a de “união hipostática”, onde, as duas naturezas de Jesus encontraram-se plenamente unidas, a partir do momento em que houve a fecundação do salvador no seio virginal de Maria Santíssima.

Há muitas contestações por conta de alguns escritores, que insistem em afirmar que as escrituras, nada dizem sobre a “maternidade divina de Maria”, simplesmente pelo fato de Maria ser chamada de a “Mãe de Jesus”. Pois bem, grande parte do direcionamento teológico da Igreja, parte de um único verso do evangelho que afirma integralmente que de fato, Jesus era o próprio Deus e que Maria era digna de ser chamada de “Mãe de Deus”. 

O evangelista Lucas, um dos responsáveis por nos conceder grande parte das informações que possuímos, ainda que primitivamente da virgem Maria, narra o momento em que Isabel revela a vocação de sua parenta. No primeiro capítulo de seu evangelho, podemos compreender de forma simples o entendimento católico sobre o termo “Theotókos” (mãe de Deus):

1 - Isabel ao ouvir a saudação da virgem, ficou repleta do “Espírito Santo”:
Lc 1,41 – “Ora, quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança lhe estremeceu o ventre e Isabel ficou repleta do Espírito Santo”.

2 - Falando aquilo que o próprio Espírito a revelava, Isabel diz que não há qualquer mulher semelhante à Maria:
Lc 1,42 – “Com um grande grito, exclamou: ‘Bendita és tu entre as mulheres e bendito é fruto de teu vente’”. 

3 - Isabel conclui sua fala, indicando a vocação da “maternidade divina” da Mãe de Deus:
Lc 1,43 – “Donde me vem que a ‘mãe do meu Senhor’ me visite?”. 

Isabel fala aquilo que o Espírito Santo a inspira a dizer. Não há nada dito mediante a “carne” e sim, através do espírito. “Senhor” é o título divino que o evangelista atribui a Jesus Cristo, este por sua vez, totalmente homem e totalmente Deus, isto é, quando a parenta de Maria diz que ela (Maria) era a “mãe do seu Senhor”, afirma com palavras vindas do alto que a união que existiria entre a criança e esse bendito fruto, seria o inicio de uma nova era que traria a salvação ao povo, uma vez que, a natureza que ali habitava era do próprio Deus.

Isabel era uma simples mulher, esposa do sacerdote Zacarias e provavelmente, por conta de ser esposada de um homem que realizava serviços no templo, jamais, ousaria chamar o que quer que seja de “Senhor”, se assim não fosse o próprio Deus, entretanto, ela estava inundada pela força do Santo Espírito e ao proclamar tais palavras, afirma com total verdade que Maria, era a mãe do seu Senhor, logo, a mãe do seu único e verdadeiro Deus.

Partindo desse princípio, e contrariando as principais vertentes cristãs que insistem em dizer que a Igreja Católica ensina que Maria é “mãe da eternidade” do Cristo, afirmamos que o ensino perpétuo da fé católica é de atribuir o título de “Mãe de Deus” em consequência da natureza divina do filho eterno, consubstancial ao pai, que se fez homem e habitou em um corpo humano. Dessa forma, Maria torna-se a portadora de Deus que gerou, a partir do nascimento, não a essência divina e sim, a união hipostática das duas naturezas que habitariam em um único corpo: a deidade e a humana. 

O catecismo da Igreja Católica (CIC) expõe o dogma da “Theotókos” de uma forma simples e acessível:

CIC 495 - “Denominada nos evangelhos “a Mãe de Jesus” (Jo 2,1; 19,25), Maria é aclamada, sob o impulso do Espírito, desde antes do nascimento de seu Filho, como “a Mãe de meu Senhor” (Lc 1,43). Com efeito, aquele que ela concebeu do Espírito Santo como homem e que se tornou verdadeiramente seu Filho segundo a carne não é outro que o Filho eterno do Pai, a segunda pessoa da Santíssima Trindade. A Igreja confessa que Maria é verdadeiramente a Mãe de Deus (Theotókos)”. 


Essa intima união que fez das duas naturezas de Cristo (homem e divina) um mistério para a humanidade, foi compreendida pela Igreja como verdade imutável e dizer ao contrário disso, seria afirmar a crença em uma heresia denominada de nestorianismo, onde seu propagador foi “Nestório” que era bispo de Constantinopla.  A heresia nestoriana, propunha um Jesus “dividido” em duas naturezas distintas, isto é, Maria deveria ser mãe apenas do Jesus homem, enquanto o Jesus divino era filho de Deus. Essa divisão causou certo desconforto durante os embates existentes dos membros da Igreja, uma vez que, a sugestão de Nestório, trazia dois Jesus diferentes e não apenas um (em unidade de naturezas), como a fé católica afirmava.

Mediante a isso, o concílio de Éfeso foi convocado para afirmar a ortodoxia católica e defender a verdade imutável. O conciliou confessou que:
  
“O Verbo, unindo a si em sua pessoa uma carne animada por uma alma racional, se tornou homem” (CIC 466). 

E continua:

“Mãe de Deus não porque o Verbo de Deus tirou dela sua natureza divina, mas porque é dela que ele tem o corpo sagrado dotado de uma alma racional, unido ao qual, na sua pessoa, se diz que o Verbo nasceu segundo a carne” (CIC 466).

Aproximadamente 250 Bispos estiveram reunidos na intenção de confirmar a Fé e a verdade. O concílio foi apoteótico e de uma atmosfera de puro confronto, um verdadeiro marco na história. Dizer que Maria não é mãe do verbo encarnado é ir contra a própria escritura que possuí testemunho claro de que o próprio Jesus, era totalmente homem e totalmente divino.

É assim que a literatura evangelística de Mateus nos ensina ao escrever as palavras do Anjo a José, por meio de um sonho:

Mt 1,23 – “Eis  que a virgem conceberá e dará a luz um filho e o chamarão com o nome de Emanuel, o que traduzido significa: ‘Deus está conosco”.

Infelizmente, uma grande parte de cristãos não católicos, aderem à heresia nestoriana, sem mesmo saber de suas características, outros talvez, rejeição a verdade por falta de profundidade teológica.

Para concluirmos, é necessário entender três pontos:

1 – Embora Maria tenha concebido o próprio Deus, não seria correto afirmar que em sua eternidade, isto é, fora do tempo, Jesus tenha uma mãe, um pai ou algum parente. Anterior a tudo e a todos, o primeiro e o último, o início e o fim. Maria é Mãe de Deus segundo o verbo encarnado, sua natureza (Cristo) é eterna e consubstancial ao Pai, porém, a união com a realidade humana, junto do seu ser divino, fazem de Jesus verdadeiro Deus e verdadeiro Homem (união hipostática) unidos em uma única pessoa. 

2 – Dentro do tempo, Cristo possui uma mãe a qual a Igreja durante os séculos a identificou como a Theotókos. É importante mencionar que se Igreja Católica no Concílio de Éfeso (431) não afirmasse essa verdade de fé, poderia ocorrer uma grande catástrofe, uma vez que, muitos incultos e até mesmo os mais entendidos poderiam pensar que por Maria não ser mais a Mãe de Deus, Cristo por consequência, poderia já não ser mais o próprio Deus.

3 – É importante repousarmos firmemente nas decisões da Igreja que defendeu (com auxilio do Espírito Santo) algo que sempre foi entendido por unanimidade entre padres e bispos, afinal, para resguardar a natureza de Cristo que é o próprio Deus, foi afirmada com total veemência a maternidade divina da virgem, uma vez que, Jesus em sua caminhada terrena, além de ser homem, era e é o próprio Deus.

Em Cristo Jesus;

Érick Augusto Gomes