domingo, 10 de setembro de 2017

NOVO ENDEREÇO - AVISO AOS LEITORES


PAX! 

INFORMO A TODOS QUE A PARTIR DE AGORA, O BLOG "APOLOGÉTICA CRISTÃ CATÓLICA" NÃO SERÁ MAIS ATUALIZADO. 


TODOS OS TEXTOS E ATUALIZAÇÕES PODEM SER ENCONTRADOS NO SEGUINTE ENDEREÇO:


PEÇO QUE CONTINUEM REZANDO POR ESSE TRABALHO! 

O APOSTOLADO NÃO ACABOU. APENAS FOI TRANSFERIDO PARA UM SITE, PARA ASSIM, OFERECER AOS LEITORES, MELHORES CONDIÇÕES. 

DEUS ABENÇOE! 

EM CRISTO;

ÉRICK AUGUSTO GOMES

sábado, 1 de julho de 2017

CARIDADE E FÉ



RESUMO

Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mc 12,31). De acordo com a perspectiva cristã, o que vem a ser a caridade no seguimento dos ensinos de Jesus? Pois bem, a caridade pode ser reconhecida como um amor de “dileção”, isto é, diferente de outros tipos de sentimentos que afloram no “eu humano”, a caridade trata-se de um envolvimento com o bem do próximo, o bem comum. O presente artigo tem por objetivo, explanar o tema caridade e suas implicações no cristianismo (história e atualidade). As fontes que dão sustentação ao texto são oriundas das sagradas escrituras e de textos extraídos da patrística, ou seja, dos primeiros padres da Igreja. O artigo apresenta de forma simples, clara e didática, o motivo principal da obrigatoriedade de todo cristão em fazer da caridade, um caminho de fé e de preparação para a vinda e instalação do reino do Cristo.

Palavras-chave: Caridade. Evangelho. Pobreza.

INTRODUÇÃO

A caridade não é um tema ou um conceito novo na vida do cristão. Seja você apenas uma criança de caminhada ou alguém que tenha crescido em um ambiente cercado pela sacramentalidade cristã, talvez, já tenha presenciado movimentos, pastorais, grupos e até coletas em missas que tenham como finalidade o fundamento da caridade.

A sagrada escritura transborda de textos que incentivam o amor as pessoas que nos cercam. Ainda que o período vétero-testamentário, seja classificado por alguns como uma época onde “Deus se fazia mais duro”, percebemos que o amor do Senhor refletia em boas ações. Podemos ler sobre isso no livro do Levítico onde diz: “Não te vingarás e não guardarás rancor contra os filhos do teu povo. Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou Iahweh” (Lv 19,18). A caridade foi o clamor de muitos profetas que buscavam a justiça para Israel. Embora seja um tema que deveria ser motivo de obrigatoriedade para todo o povo Deus, infelizmente, muitos eram os opressores que ao invés de amar, cobriam uma multidão inteira com desgraças. Nesse sentido, o profeta Amós, é usado por Iahweh como grande oráculo de sua época a fim de denunciar a falta de amor (caridade) para com os menos favorecidos:

Porque vendem o justo por dinheiro e o indigente por um par de sandálias. Eles esmagam sobre o pó da terra a cabeça dos fracos e tornam torto o caminho dos pobres; um homem e seu pai vão à mesma jovem para profanar o meu santo nome” (Am 2,6-7).           

  O mesmo profeta, em sua quarta visão (Am 8,1-14), afirma que Deus jamais esquecerá daqueles que faltam com a caridade para com os mais fracos: “Ouvi isto, vós que esmagais o indigente e quereis eliminar os pobres da terra. Iahweh jurou pelo orgulho de Jacó: <não esquecerei jamais nenhuma de suas ações>” (Am 8,4.7)

Dessa forma, a continuidade da pregação de Jesus Cristo, registrada no novo testamento, continuará a afirmar a importância da justiça para com os mais pobres e por consequência, atos caridosos que representarão o Reino de Deus. São Mateus em seu evangelho, registra as palavras do Senhor no que diz respeito ao último julgamento. Nos versículos que se seguem, a clara contestação de que a caridade deve preceder todos os que amam o salvador, torna-se da verdade um dogma de fé:

Então dirá o rei aos que estiverem a sua direita: <Vinde benditos de meu Pai, recebei por herança o Reino preparado para vós desde a fundação do mundo. Pois tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber. Era forasteiro e me acolhestes. Estive nu e me vestistes, doente e me visitastes, preso e viestes ver-me. Em verdade vos digo: cada vez que o fizeste a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes>” (Mt 25,34-35.40).  

Como bem disse São Paulo em sua primeira epístola aos Coríntios: “Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e as dos anjos, se eu não tivesse a caridade, seria como bronze que soa ou como címbalo que tine” (1 Cor 13,1). A caridade não pode ser caracterizada como um simples dom, mas sim, como um desejo que infunde na alma de cada cristão que impelido pela graça regeneradora do batismo, assume para si a tarefa de preparar o caminho para a volta de Jesus e por consequência de seu testemunho, anunciará seu reinado glorioso onde “Ele enxugará toda lágrima dos seus olhos, pois nunca mais haverá morte, nem luto, nem clamor, e nem dor haverá mais. Sim! As coisas antigas se foram!” (Ap 21,4).

                                                             QUAL A FINALIDADE DA CARIDADE? 

Quando falamos sobre “caridade”, a primeira coisa que nos vem à mente são situações onde existe o “amor ao próximo”. Ainda assim, qual é a finalidade dessas ações? Ou, no que consiste tal palavra? A palavra caridade tem sua origem etimológica do latim (caritas.atis) e tem dois simples significados: ternura e amor. A caridade é uma das três virtudes teologais, sendo que, possui um caráter de tamanha importância que a Santa Igreja Católica, considera que até pecados veniais podem ser perdoados se a caridade for praticada: “E esta caridade vivificada apaga os pecados veniais” (CIC 1394). Além dessa importante informação, encontramos no CIC outra definição muito especial, sendo ela: “A caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas, por si mesmo, e a nosso próximo como a nós mesmos, por amor de Deus(CIC 1822).

Dessa forma, entendemos que como católicos, a caridade tem um aspecto muito mais abrangente do que apenas dar esmolas, mas também, caracteriza-se como um ato que nos une com mais perfeição a Deus justamente por sabermos que Cristo pode ser encontrado na pessoa do oprimido, do pobre, do injustiçado. São Paulo em sua epístola aos Colossenses afirma: “Mas sobre tudo isso, revesti-vos da caridade, que é o vínculo da perfeição” (Cl 3,14). A caridade tem como fruto principal o amor a Deus e ao próximo. Se somos caridosos, cumprimos plenamente o amor do Senhor em nossas vidas:

Se alguém, possuindo os bens deste mundo, vê seu irmão na necessidade e lhe fecha as entranhas, como permaneceria o amor de Deus? Filhinhos, não amemos com palavras nem com a língua, mas com ações e em verdade. Nisto saberemos que somos da verdade, e diante dele tranquilizaremos o nosso coração” (1 Jo 3,17-19).

A finalidade máxima da caridade é demonstrar que uma fé viva sempre será sinal da presença do Deus de amor (Tg 2,14-26; 1 Jo 4,8).  

QUEM NOS IMPELE A FAZER A CARIDADE? ESTÁ FORA OU DENTRO DE NÓS?

Ao olharmos para os quase 20 séculos de cristianismo, perceberemos que foi demasiadamente grande, a preocupação dos padres no que dizia respeito ao “amor ao próximo” por meio de ações concretas.  A preocupação se dava, justamente porque grande parte da religiosidade pagã, não possuía qualquer amor por seus semelhantes e o cristianismo apresentava uma novidade de vida e o testemunho de fé era (ainda é) uma grande arma de conversão. São Policarpo, bispo de Esmirna (69-155 d.C.) em sua carta aos Filipenses diz: “Quando podeis fazer o bem, não o deixeis para depois, porque a esmola liberta da morte” (Fl 10,2, PADRES APOSTÓLICOS, 1995, pg 144). A “Didaqué” (instrução dos apóstolos), documento datado do primeiro século (80-90 d.C.) afirma: “Não odeie a ninguém, mas corrija uns, reze por outros, e ainda ame os outros, mais do que a si mesmo” (Dq 2,7, PADRES APOSTÓLICOS, 1995, pg 346).

É certo afirmar que a caridade sempre foi um dos temas mais trabalhados – juntamente do Kerigma (At 2,14-36) – nas primeiras comunidades cristãs e para todos, sem exceção, a força que impele a ação da caridade está baseada no amor do próprio Cristo que deu a sua vida por todos nós. Foi Deus quem realizou o primeiro grande “ato de caridade” em favor de toda a humanidade quando, enviou seu único e amado filho a fim de que todos nós, tivéssemos vida em abundancia (Jo 3,16). São João em seu evangelho, registra a chave que nos impulsiona a amar os nossos irmãos:

Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos. Vós sois meus amigos, se praticais o que vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que seu senhor faz; mas vos chamo amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai vos dei a conhecer. Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e produzirdes fruto e para que vosso fruto permaneça, a fim de que tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome ele vos dê. Isto vos mando: amai-vos uns aos outros” (Jo 15,12-17).            

Jesus Cristo nos escolheu para que possamos dar continuidade a sua missão de amor e essa semente, é colocada em nosso coração a partir do momento que aceitamos e entendemos o projeto salvador da Trindade Santa. A caridade brota como um fruto saboroso em nosso coração e a partir do seu sabor, somos convidados a fazer o bem como se o nosso próximo estivesse representado pela pessoa do próprio Cristo. Aprendemos isso com o Papa Leonino em seu 1º sermão sobre as coletas (440 d.C): “Com efeito, aquele que alimenta o Cristo presente no pobre, constrói seu tesouro no céu” (1º Sermão sobre as coletas, LEÃO MAGNO, 1996, pg 17).

A CARIDADE PODE SER VIVIDA SEM A DIMENSÃO RELIGIOSA?

Com efeito, como o corpo sem o sopro da vida é morto, assim também é morta a fé sem as obras” (Tg 2,26). A caridade é um valor que transcende a vivência religiosa, dessa forma, a ação de ajudar o próximo pode ser praticada por qualquer pessoa ou por qualquer profissão de fé.

Ainda sim, devemos ressaltar que a plenitude dessa virtude só pode ser alcançada em conformidade com a Igreja que é conduzida pela ação do Espírito Santo. Desde as épocas mais primitivas, muitos são os que recorrem a Igreja na intenção de sanar suas necessidades físicas e espirituais. O Papa Leão Magno e seu “6º sermão sobre as coletas” (440 d.C), afirma que é a Igreja responsável pela ajuda dos mais necessitados:

Caríssimo, foi providencial e piedosa a determinação dos santos Padres, para que em diversos momentos do ano houvesse dias marcados para despertar a devoção do povo fiel para uma coleta pública; pois é em direção da Igreja que vem todo pessoal necessitado de socorro, eles quiseram que os recursos de muitos recolhidos espontaneamente e santamente, fossem distribuídos aos necessitados pelos chefes das Igrejas” (6º sermão sobre as coletas, LEÃO MAGNO, 1996, Pg 35).            

Dessa forma, devemos ressaltar a nobre virtude de muitas pessoas que professam diferentes credos religiosos (e até mesmo de ateus que procuram dividir seus bens para com os pobres), porém, somos nós os responsáveis pela a dupla ação em evangelizar os que possuem bens materiais, para que assim, creiam no Cristo e transformem as suas obras na plenitude do amor de Deus. São Tiago diz que a “fé sem obras é morta”, sendo assim, podemos também concluir que ações que não estejam respaldadas pela verdadeira fé em Jesus, também estarão incompletas. 

QUAL A CONTRIBUIÇÃO TEOLÓGICA PARA COM A CARIDADE?

Mas Pedro lhe disse: <Nem ouro nem prata possuo. O que tenho, porém, isto te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda>!” (At 3,6). A teologia é uma ciência que tem por objeto de estudo a “essência divina (Deus)”, sendo que, há inúmeros caminhos para o entendimento do Altíssimo e a caridade, sendo uma das três virtudes teologais, é uma estrada segura para esse aprendizado.

O papel do teólogo durante a história sempre foi grandioso, uma vez que, a busca pela santidade impele-nos em preocupar-se com a pessoa dos mais necessitados. Citando mais uma vez o saudoso Papa Leão (440 d.C), em seu sermão sobre a quaresma, o pontífice deixava claro como deveria ser o direcionamento dos cristãos:

Os santos devem preocupar-se, sobretudo, para que ninguém passe frio, para que ninguém sinta fome, para que ninguém pereça por causa da miséria, para que ninguém fique arrasado pela tristeza, para que ninguém fique acorrentado” (9º sermão sobre a quaresma, LEÃO MAGNO, 1996, Pg 109).            

O uso da teologia representa uma grande oportunidade para que os cristãos aproximem-se da “verdadeira religião”. São Tiago é claro ao dizer em sua epístola: “Com efeito, a religião pura e sem mácula diante de Deus, nosso Pai, consiste nisto: visitar os órfãos e as viúvas em suas tribulações e guardar-se livre da corrupção do mundo” (Tg 1,27). O mesmo escritor afirma que os pobres são os herdeiros do Reino: “Não escolheu Deus os pobres em bens deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que o amam?” (Tg 2,5). Não obstante no novo testamento, o velho testamento releva uma herança profunda na busca da justiça baseada na caridade. O Deus de Israel, sobretudo, amou e continua amando os pobres: “Seja Iahweh fortaleza para o oprimido, fortaleza nos tempos de angústia” (Sl 9,10). O Senhor é caracterizado pelo salmista como aquele que “fecha a boca da injustiça”: “Mas levanta o indigente da miséria e multiplica famílias como rebanho. Os corações retos veem e alegram-se, e toda injustiça fecha a sua boca” (Sl 107,41-42). 

Ser um teólogo e respirar a essência teológica, está muito mais além do que apenas estudar livros, verificar a história ou escrever artigos. A contribuição teológica deve ser feita em primeiro lugar por meio da ação em pró dos que mais precisam. Como poderíamos, nós, propagar os ensinos das sagradas letras, das ciências divinas, dos documentos históricos da Santa Igreja Católica, sem ao menos, entender se nossos receptores estão sendo atendidos em suas necessidades mais básicas (alimento e moradia)?

Atendamos o pedido prático e claro de São Paulo em sua epístola aos Gálatas: “Pois toda a Lei está contida numa só palavras: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (Gl 5,14)

CONCLUSÃO

Diz Tiago: <A fé sem obras é morta>. A que ponto, então, enganam-se aqueles que se propõem a vida eterna com base em uma fé morta!(Fé e Obras, SANTO AGOSTINHO, 2017, pg 261).

Podemos dizer que o cristianismo é uma profissão de fé diferenciada por dois motivos:

1 - Apresenta a novidade de um Deus que se vez homem como nós (
Jo 1,1) e que diferente dos grandes poderes, nasce na pobreza e na miséria (Lc 2,6). Morre em um madeiro romano (Mc 15,23-27) por conta do nosso pecado (Jo 3,16) e concede-nos de forma gratuita a eternidade (Ap 21,1-7);

2 - Por consequência do seu evangelho, da sua pregação e do seu amor para com todos, infunde o Santo Espírito no coração do convertido para que assim, homens e mulheres trabalhem juntos na construção do reino e na busca incessante dos mais aflitos. “Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados” (Mt 5,6). 

A Igreja Católica, deixada pelo próprio Cristo, em continuidade com a tradição e o seguimento apostólico, trabalhou e continua trabalhando arduamente para que a caridade seja uma das bandeiras de toda a cristandade. Thomas E. Woods Jr, em seu livro “Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental”, cita que foi a Igreja responsável pela institucionalização da atenção às viúvas e órfãos e pioneira da criação de hospitais.

Sendo assim, somos convidados a exercer esse ministério de amor, afinal, sendo a caridade uma virtude teologal, ela, deve ser colocada em prática. “Sede santos pois eu sou Santo”, diz o Senhor (1 Pe 1,16) e a busca da santidade está estritamente ligada em “amar o próximo como a si mesmo” (Mc 12,33).

REFERÊNCIAS

BIBLIA SAGRADA DE JERUSALÉM. Nova edição, revista e ampliada. 4ª impressão, 2006. Editora Paulos.

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Edição revisada de acordo com o texto oficial em latim. Outubro, 1992. Edições Loyola.

CHAVE BÍBLICA CATÓLICA. 4ª edição, 2014. Editora Ave Maria.

COLEÇÃO PATRÍSTICA. 1º livro; Padres apostólicos. 7ª Reimpressão, 2015. Editora Paulus.

COLEÇÃO PATRÍSTICA. 6º livro; Leão Magno. 4ª Reimpressão, 2015. Editora Paulus.

COLEÇÃO PATRÍSTICA. 36º livro; Santo Agostinho. 1ª Edição, 2017. Editora Paulus.

WOODS, THOMAS E. Jr. Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental; Santo Agostinho. 9ª Edição, 2014. Editora Quadrante.


sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

SÃO PEDRO, ROMA E OS TESTEMUNHOS PRIMITIVOS DA IGREJA



INTRODUÇÃO

A centralidade da fé católica está enraizada na pessoa do Cristo. Sendo ele Deus e Senhor, antes mesmo de findar seu ministério terreno, deixou as bases principais para que o evangelho fosse propagado de forma imaculada. Jesus era judeu, Jerusalém era a capital do rito cultual de todos os hebreus, porém, desde o início da Igreja, a fé tem sido guiada e tratada com certa particularidade a partir do mundo grego-romano, uma vez que, os novos convertidos eram os frutos gerados da pregação apostólica direcionada não apenas a israelitas, mas também, ao povo gentílico. 


São Mateus em seu evangelho, registra às importantes palavras de Jesus no que diz respeito a “nova nação” que assumiria a frente do Reino de Deus:  

Mt 21,43 – “Por isso vos afirmo que o Reino de Deus vos será tirado e confiado a um povo que o fará produzir seus frutos”.

Após a ascensão de Jesus, a Igreja se espalhou rapidamente por outras regiões e deixou de ser uma religião estritamente judaica para assim, tornar-se uma fé puramente universal. Essa universalidade foi se concretizando através de novas sedes que surgiam, onde, haviam novos sacerdotes e bispos. Santo Inácio de Antioquia (107 d.C) em sua epístola aos Efésios comenta sobre os “bispos que são nomeados em todo o mundo” (Ef 3,2) , assim como da importância do cristão de estar unido a ele (bispo) para celebrar a unidade de toda a Igreja (Ef 5,1-2).

É notável afirmar que grande parte da patrística dos primeiros séculos da Igreja, parece ter entendido que de todas as novas sedes que se instalavam nas províncias, uma gozava de particular reputação: Roma. Embora tivesse sido em Antioquia o local onde os crentes tenham ganhado pela primeira vez o nome de cristãos (At 11,26), foi na cidade romana que a nova crença ganha novos ares de poder. São Paulo em sua carta aos cristãos de Roma, exalta a fé que já era celebrada em todo o mundo (Rm 1,8).

Um dos motivos principais pela estruturação do forte mover da sede episcopal em Roma, deve-se ao fato do seu primeiro Bispo, São Pedro o apóstolo. O discípulo que teve seu nome alterado (Simão = Cefas = Pedro = Pedra Jo 1,42), recebeu do próprio Cristo o poder de “ligar e desligar” (Mt 16,19) e tinha como missão confirmar a fé dos seus irmãos (Lc 22,31-32), está intimamente ligado a antiga cidade chamada de babilônia, uma vez que, segundo forte tradição, teria Pedro ali, exercido seu episcopado e posteriormente tornado-se mártir ao ser crucificado de cabeça para baixo nos tempos do Imperador Nero. Ainda que boa parte do mundo protestante, tente afirmar o contrário quando o tema é referente ao ministério petrino e a sede romana, a história dos primeiros 6 (seis) séculos da Igreja demonstra grande segurança no que diz respeito a cátedra de Pedro.

O presente artigo não irá explorar linhas interpretativas ou análises de outros teólogos, entretanto, serão colocadas citações que procurarão esclarecer ao leitor a respeito da fé primitiva que repousa na Santa Igreja, coluna e sustentáculo da verdade (1 Tm 3,15). 


I SÉCULO (0 a 100 d.C)

Epístola de São Paulo aos Romanos (55-58 d.C):

Em primeiro lugar, dou graças ao meu Deus mediante Jesus Cristo, por todos vós, porque vossa fé é celebrada em todo o mundo” (Rm 1,8).


1ª Epístola de São Pedro (64 d.C):

Por Silvano, que considero irmão fiel, vos escrevi em poucas palavras, exortando-vos e testificando que esta é a verdadeira graça de Deus, na qual deveis permanecer firmes. A que está em Babilônia (Roma), eleita como vós, vos saúda, como também Marcos, meu filho” (1 Pe 5,12-13).


Evangelho segundo São Marcos (64 d.C):

Jesus saiu com os seus discípulos para as aldeias de Cesaréia de Filipe e pelo caminho perguntou-lhes: <Quem dizem os homens que eu sou?>. Responderam-lhes os discípulos: <João Batista; outros, Elias; outros, um dos profetas>. Então, perguntou-lhes Jesus: <E vós, quem dizeis que eu sou?> Respondeu Pedro: <Tu és o Cristo>” (Mc 8,27-29).


Evangelho segundo São Mateus (70 d.C):

Simão Pedro respondeu: <Tu és o Cristo, o filho de Deus vivo!> Jesus, então, lhe disse: <Feliz és Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou, mas meu Pai que está nos céus. E eu te declaro: <tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; às portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei às chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus>”  (Mt 16,16-19).


Evangelho segundo São Lucas (80 d.C):

Num dia em que ele estava a oras a sós com os discípulos, perguntou-lhes: <Quem dizem que eu sou?> Responderam-lhes: <Uns dizem que és João Batista; outros, Elias; outros pensam que ressuscitou algum dos antigos profetas>. Perguntou-lhes, então: <E vós, quem dizeis que eu sou?> Pedro respondeu: <O Cristo de Deus>”  (Lc 9,18-20).

Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneiras como o trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua confiança não desfaleça; e tu, por tua vez, confirma os teus irmãos” (Lc 22,31).


Atos dos Apóstolos, segundo São Lucas (70 ou 80 d.C):

Pedro, então, de pé, junto com os Onze, levantou a voz e assim lhes falou: <Homens da Judéia e todos voz, habitantes de Jerusalém, tomai conhecimento disto e prestai ouvidos às minhas palavras>” (At 2,14).

Então Pedro, repleto do Espírito Santo, lhes disse: <Chefes do povo e anciãos! Uma vez que hoje somos interrogados judicialmente a respeito do benefício feito a um enfermo e de que maneira ele foi curado>” (At 4,8).

Mais e mais aderiam ao Senhor, pela fé, multidões de homens e de mulheres a ponto de levarem os doentes até para as ruas, colocando-os sobre leitos e em macas, para que, ao passar Pedro, ao menos a sua sombra cobrisse algum deles” (At 5,14-15).

Tornado-se acesa a discussão, levantou-se Pedro e disse: <Irmãos, vós sabeis que, desde os primeiros, aprouve a Deus, entre vós, que por minha boca ouvissem os gentios a palavra da Boa Nova e abraçassem a fé” (At 15,7).


Evangelho segundo São João (95 d.C):

 “Levou-o a Jesus, e Jesus fixando nele o olhar, disse: <Tu és Simão filho de João; serás chamado Cefas (que quer dizer pedra)>” (Jo 1,40-42).

Tendo eles comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: <Simão, filho e João, amas-me mais do que estes?> Respondeu ele: <Sim, Senhor, tu sabes que te amo>”. Disse-lhe Jesus: <Apascenta os meus cordeiros>” (Jo 21,15).


Epístola aos Coríntios, segundo o Papa Clemente de Roma (aproximadamente: 81-96 ou 96-98 d.C)

OBS: Clemente, no exercício de sua autoridade, envia uma Carta à Igreja de Corinto na intenção de corrigi-los fraternalmente. 

Eu vos chamei, e não obedecestes; prolonguei meus discursos, e não prestastes atenção. Ao contrário, tornastes inúteis os meus conselhos e rejeitastes minhas admoestações. Por isso, eu também rirei da vossa ruína, e me alegrarei quando alastrar sobre vós o extermínio, quando caírem sobre vós à tempestade, quando vier à catástrofe semelhante ao furacão, e cair sobre vós à aflição e a angústia. Então me chamareis, mas eu não vos escutarei. Os maus me procurarão, porém não me encontrarão, porque eles odiaram a Sabedoria e não escolherem o temor do Senhor; não quiseram dar atenção aos meus conselhos, e desprezaram as minhas admoestações” (Aos Coríntios 57,4-5).

“Se alguns desobedecem ao que nós lhe dissemos da parte de Deus, saibam eles que estão incorrendo em falta e não poucos perigos” (Aos Coríntios 59,1).

“Vós nos dareis alegria e contentamento, se obedecerdes ao que escrevemos por meio do Espírito Santo, se acabardes com a cólera injusta da vossa inveja, segundo o pedido, que vos dirigimos nesta carta, tendo em vista a paz e a concórdia” (Aos Coríntios 63,2).


II SÉCULO (101 a 200 d.C) 


Epístola aos Romanos, segundo Santo Inácio de Antioquia (aproximadamente: 107 a 110 d.C):

Inácio, também chamado Teóforo, à Igreja que recebeu a misericórdia, por meio da magnificência do Pai Altíssimo e de Jesus Cristo, seu Filho único; à Igreja amada e iluminada pela bondade daquele que quis todas as coisas que existem, segundo fé e amor por Jesus Cristo, nosso Deus; à Igreja que preside na região dos romanos, digna de Deus, digna de honra, digna de ser chamada feliz, digna de louvor, digna de sucesso, digna de pureza, que preside ao amor, que porta a lei de Cristo, que porta o nome do Pai; eu a saúdo em nome de Jesus Cristo, o Filho do Pai” (Aos Romanos, saudação). 


Contra as Heresias, segundo Santo Irineu de Lião (180 d.C):

Assim, Mateus publicou entre os judeus, na língua deles, o escrito dos Evangelhos, quando Pedro e Paulo evangelizavam em Roma e aí fundavam a Igreja. Depois da morte deles, também Marcos, o discípulo e intérprete de Pedro, nos transmitiu por escrito o que Pedro anunciava. Por sua parte, Lucas, o companheiro de Paulo, punha num livro o Evangelho pregado por ele. E depois, João, o discípulo do Senhor, aquele que recostara a cabeça ao peito dele, também publicou o seu Evangelho, quando morava em Éfeso, na Ásia” (Contra as Heresias [III livro] 1,1).

Mas visto que seria coisa bastante longa elencar, numa obra como esta, as sucessões de todas as igrejas, limitar-nos-emos à maior e mais antiga e conhecida por todos, à igreja fundada e constituída em Roma, pelos dois gloriosíssimos apóstolos, Pedro e Paulo, e, indicando a sua tradição recebida dos apóstolos e a fé anunciada aos homens, que chegou até nós pelas sucessões dos bispos, refutaremos todos os que de alguma forma, quer por enfatuação ou vanglória, quer por cegueira ou por doutrina errada, se reúnem prescindindo de qualquer legitimidade. Com efeito, deve necessariamente estar de acordo com ela, por causa da sua origem mais excelente, toda a igreja, isto é, os fiéis de todos os lugares, porque nela sempre foi conservada, de maneira especial, a tradição que deriva dos apóstolos” (Contra as Heresias [III livro] 3,2).

 Os bem-aventurados apóstolos que fundaram e edificaram a Igreja transmitiram o governo episcopal a Lino, o Lino que Paulo lembra na carta a Timóteo. Lino teve como sucessor Anacleto. Depois dele, em terceiro lugar, depois dos apóstolos, coube o episcopado a Clemente, que vira os próprios apóstolos e estivera em relação com eles, que ainda guardava viva em seus ouvidos a pregação deles e diante dos olhos a tradição. E não era o único, porque nos seus dias viviam ainda muitos que foram instruídos pelos apóstolos. No pontificado de Clemente surgiram divergências graves entre os irmãos de Corinto. Então a Igreja de Roma enviou aos coríntios uma carta (carta mencionada no campo “I Século”) importantíssima para reuni-los na paz, reavivar-lhes a fé e reconfirmar a tradição que há pouco tempo tinham recebido dos apóstolos, isto é, a fé num único Deus todo-poderoso, que fez o céu e a terra, plasmou o homem e provocou o dilúvio, chamou Abraão, fez sair o povo do Egito, conversou com Moisés, deu a economia da Lei, enviou os profetas, preparou o fogo para o diabo e os seus anjos. Todos os que o quiserem podem aprender desta carta que este Deus é anunciado pelas Igrejas como o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo e conhecer a tradição apostólica da Igreja, porque mais antiga do que os que agora pregam erradamente outro Deus superior ao Demiurgo e Criador de tudo o que existe” (Contra as Heresias [III livro] 3,3).

A este Clemente sucedeu Evaristo; a Evaristo, Alexandre; em seguida, sexto depois dos apóstolos foi Sisto; depois dele, Telésforo, que fechou a vida com gloriosíssimo martírio; em seguida Higino; depois Pio; depois dele, Aniceto. A Aniceto sucedeu Sóter e, presentemente, Eleutério, em décimo segundo lugar na sucessão apostólica, detém o pontificado. Com esta ordem e sucessão chegou até nós, na Igreja, a tradição apostólica e a pregação da verdade. Esta é a demonstração mais plena de que é uma e idêntica a fé vivificante que, fielmente, foi conservada e transmitida, na Igreja, desde os apóstolos até agora” (Contra as Heresias [III livro] 3,3).


III SÉCULO (201 a 300 d.C)


Tratado sobre os princípios, segundo Orígenes (220 a 230 d.C):

 Penso, com efeito, que a natureza humana tem limites definidos, mesmo quando se trata de Paulo, de quem está escrito: <Este é para mim um vaso de eleição (At 9,15)>, ou de Pedro, contra quem nada podem as portas do inferno” (Tratado sobre os princípios [Livro III] 2,5).



Homilias sobre o evangelho de São Lucas, segundo Orígenes (240 d.C):

<Todos vós sereis escandalizados nesta noite>. Por tanto, todos foram escandalizados, a tal ponto que o próprio Pedro, o chefe dos apóstolos, renegou Jesus três vezes” (Homilia 17, capítulo 6).


IV SÉCULO (301 a 400 d.C)

História Eclesiástica, segundo Eusébio de Cesaréia (303 a 324 d.C):

“Imediatamente depois, ainda no começo do império de Cláudio, a Providência universal, boníssima e cheia de amor aos homens, conduziu pela mão a Roma, qual adversário deste destruidor da vida, o valoroso e grande apóstolo Pedro, o primeiro dentre todos pela virtude. Autêntico general de Deus, munido de armas divinas (Ef 6,14-17; 1Ts 5,8), trazia do Oriente ao Ocidente a preciosa mercadoria da luz inteligível, e anunciava, como a própria luz (cf. Jo 1,9) e palavra de salvação para as almas, a boa nova do reino dos céus”  (HE [Livro II] 14,6).

“Diz-se que o apóstolo conheceu o fato por uma revelação do Espírito. Alegrou-se com o desejo deles e aprovou o livro por meio de leitura nas assembleias. Clemente, no sexto livro das Hypotyposes conta essa história e a confirma com seu testemunho o bispo de Hierápolis, chamado Papias. Pedro menciona Marcos na sua primeira carta que, diz-se, ele mesmo compôs em Roma, assinalando-a com o nome simbólico de Babilônia, no seguinte trecho: “A que está em Babilônia, eleita como vós, vos saúda, como também Marcos, o meu filho” (1Pd 5,13).”  (HE [Livro II] 15,2).

“Foi também ele, o primeiro de todos os figadais inimigos de Deus, que teve a presunção de matar os apóstolos. Com efeito, conta-se que sob seu reinado Paulo foi decapitado em Roma. E ali igualmente Pedro foi crucificado (cf. Jo 21,18-19; 2Pd 1,14). Confirmam tal asserção os nomes de Pedro e de Paulo, até hoje atribuídos aos cemitérios da cidade” (HE [Livro II] 25,5).

“Pedro, contudo, parece ter pregado aos judeus da Diáspora, no Ponto, na Galácia, na Bitínia, na Capadócia e na Ásia (cf. 1Pd 1,1), e finalmente foi para Roma, onde foi crucificado de cabeça para baixo, conforme ele mesmo desejara sofrer” (HE [Livro III] 1,2).

“Depois do martírio de Pedro e Paulo, o primeiro a obter o episcopado na Igreja de Roma foi Lino. Paulo, ao escrever de Roma a Timóteo, cita-o na saudação final da carta (2Tm 4,21)” (HE [Livro III] 2,1).

“E em primeiro lugar as pertencentes aos santos evangelhos. São as seguintes: <Mateus, no entanto, publicou entre os hebreus e em sua própria língua um Evangelho escrito, enquanto Pedro e Paulo anunciavam a boa nova em Roma e lançavam os fundamentos da Igreja. Mas, após a morte deles, Marcos, discípulo e intérprete de Pedro, transmitiu-nos por escrito igualmente o que Pedro pregara>” (HE [Livro V] 8,2-3).

“Tais os fatos. Quanto a Adamâncio (pois Orígenes usava também este apelativo), na época em que Zeferino guiava a Igreja de Roma, esteve em Roma, conforme ele próprio escreveu numa passagem: <Tivera desejos de ver a muito antiga Igreja de Roma>. 95 Após rápida permanência, dali voltou a Alexandria,” (HE [Livro VI] 14,10).

“No quinto livro dos Comentários ao Evangelho segundo João, o mesmo Orígenes declara o seguinte acerca das Epístolas dos apóstolos: “Paulo, digno ministro do Novo Testamento, não segundo a letra, mas segundo o espírito, depois de ter anunciado o evangelho desde Jerusalém e suas cercanias até o Ilírico (Rm 15,19), não escreveu a todas as Igrejas que ele havia instruído; mesmo àquelas a que escreveu, enviou apenas poucas linhas. Pedro, sobre quem está edificada a Igreja de Cristo, contra a qual não prevalecerão as portas do inferno (Mt 16,18), deixou apenas uma carta incontestada, e talvez ainda outra, porém controvertida. (HE [Livro VI] 25,7-8).


Explicação dos Símbolos, segundo Santo Ambrósio de Milão (387 a 393 d.C):

Tu me dirás: Em seguida surgiram as heresias. De fato, também o Apóstolo diz: <É necessário que haja heresias, para que os bons sejam provados> (1Cor 11,19). O que dizer, portanto? Vede a simplicidade, vede a pureza. Quando surgiram os patripassianos, também os católicos desta região julgaram que se devia acrescentar invisível e impassível, como se o Filho de Deus fosse visível e passível. Se ele foi visível na carne, essa carne é que foi visível, não a divindade, a carne é que foi passível, não a divindade. Além disso, escuta o que ele diz: <Deus, meu Deus, olha para mim; por que me abandonaste?> (Sl 21,2; cf. Mt 27,46). Nosso Senhor Jesus Cristo disse isso na paixão. Disse isso enquanto homem, enquanto carne, como se a carne dissesse à divindade: <Por que me abandonaste?> Suponhamos que os nossos anciãos tenham sido médicos, que eles quiseram trazer saúde à doença mediante o remédio. Não se pergunta se o remédio não foi necessário naquele tempo em que as almas de certos hereges estavam com doença grave; se naquele tempo foi necessário, agora não o é. Por qual razão? Tendo sido conservada íntegra a fé contra os sabelianos, os sabelianos foram expulsos, principalmente das regiões do Ocidente. Os arianos encontraram para si nesse remédio uma espécie de calúnia, de modo que, enquanto conservamos o símbolo da Igreja Romana, eles consideraram o Pai todo-poderoso invisível e impassível” (Explicação dos Símbolos, 4).

Se nada pode ser tirado ou acrescentado aos escritos de um só apóstolo, como poderíamos mutilar o símbolo que recebemos como tendo sido composto e transmitido pelos apóstolos? Nada devemos tirar e nada acrescentar. Este é o símbolo conservado pela Igreja Romana, onde Pedro, o primeiro dos apóstolos, sentou-se e onde lhe conferiu a sentença comum” (Explicação dos Símbolos, 7).


Sobre os Sacramentos, segundo Santo Ambrósio de Milão (387 a 393 d.C):

Nós não ignoramos que a Igreja Romana não tem esse costume, da qual seguimos em tudo o exemplo e forma. Contudo, ela não tem esse costume de lavar os pés. Considera, porém, que ela deixou de lado por causa do grande número. Há também aqueles que dizem, tentando desculpá-la, que isso não se deve fazer no mistério, não no batismo, não na regeneração, mas que se deve lavar os pés como se fossem de hóspede. Contudo, uma coisa é a humildade, outra a santificação. No entanto, escuta: é mistério e também santificação: “Se eu não lavar os teus pés, não terás parte comigo” (Jo 13,8). Não digo isso, porém, para repreender outros, mas para que eu exerça as minhas funções. Desejo seguir em tudo a Igreja romana, mas nós também temos razão humana. O que, em outro lugar, se observa de maneira mais correta, nós também guardamos de maneira mais correta. Seguimos o próprio apóstolo Pedro e estamos apegados ao seu próprio fervor. O que a Igreja Romana responde a isso? Sim, o próprio apóstolo Pedro é, para nós, autor dessa afirmação, ele que foi sacerdote da Igreja Romana. É o próprio Pedro que diz: “Senhor, não só os pés, mas também as mãos e a cabeça” (Jo 13,9). Vê a fé. O que ele recusou antes foi por causa da humildade; depois, quando ofereceu a si mesmo, foi por causa do fervor e da fé” (Sobre os Sacramentos [Livro III] 1,5-6).


Sobre a Penitência, segundo Santo Ambrósio de Milão (387 a 393 d.C):

É certamente isto que eles confessam a seu próprio respeito — e com razão; de fato, não podem ter a herança de Pedro aqueles que não têm a cátedra de Pedro, a qual despedaçam com uma ímpia divisão. Contudo, é sem razão que negam também que na Igreja os pecados possam ser perdoados. Com efeito, foi dito a Pedro: “A ti eu darei as chaves do Reino dos céus, e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será também desligado nos céus” (Mt 16,19), e o próprio “vaso de eleição” (cf. At 9,15) do Senhor diz: “Se perdoais algo a alguém, também eu perdoo; pois também eu, o que perdoei, foi em vosso favor, na pessoa de Cristo” (2Cor 2,10). Por que então eles leem Paulo, se pensam que ele errou com tal impiedade, que chegou a reivindicar para si um direito do seu Senhor? Mas ele reivindicou o que recebera; não usurpou o indevido” (Sobre a Penitência [I livro] 7,34).

Finalmente diz Pedro a Simão, que, pervertido pelo exercício da magia, julgava poder comprar com dinheiro a graça de Cristo pela imposição da mão e a infusão do Espírito Santo: <Não tens parte nem sorte nesta fé, porque o teu coração não é reto diante de Deus. Assim sendo, faze penitência por esta tua perversão e roga a Deus para que te seja talvez perdoada esta lembrança do teu coração: pois eu vejo que tu estás nos laços da iniquidade e na amargura do fel” (At 8,21-23). Tu vês que a este, que blasfemou contra o Espírito Santo> pela vaidade da magia, Pedro condena pela autoridade apostólica, — ainda mais que não tinha a consciência pura a para fé. E no entanto não lhe cortou a esperança do perdão, pois que o convidou à penitência” (Sobre a Penitência [II livro] 4,23).

Portanto, se Pedro usou as mesmas palavras que Deus usou sem prejuízo do próprio saber, por que não admitimos também que Pedro tenha empregado esta expressão sem prejuízo de sua fé? E Pedro, realmente, não poderia ter dúvidas a respeito do dom de Cristo, que lhe concedera o poder de perdoar pecados (cf. Mt 16,19), sobretudo porque não devia dar espaço às astúcias dos hereges, que na verdade querem destruir a esperança dos homens para introduzirem com maior facilidade entre os desesperançados a persuasão de repetir o batismo” (Sobre a Penitência [II livro] 5,34).


Confissões, segundo Santo Agostinho (
397 a 400 d.C):

Vamos a Igreja, quero tornar-me cristão. Este, não cabendo em si de alegria, o acompanhou imediatamente. Foi aí iniciado nos primeiros mistérios da catequese e, pouco tempo depois, deu o nome para regenerar-se no batismo, para admiração de Roma e alegria de toda Igreja" (VIII livro; 2,5).



V SÉCULO (401 a 500 d.C)



Apologia contra os livros de Rufino, segundo São Jerônimo (402 d.C):

Ele não pode, agora que é meu inimigo, tratar-me como herege, eu sobre quem ele disse recentemente em seu prefácio que não estava em desacordo com a sua fé. Ao mesmo tempo, aproveito para lhe fazer também esta pergunta: Que quer dizer esta linguagem moderada e dúbia? <O leitor latino, diz ele, nada encontrará aqui que esteja em desacordo com nossa fé.> O que ele chama <sua> fé? Aquela pela qual a Igreja romana exerce seu poder ou aquela que está contida nos volumes de Orígenes? Se ele responde: a fé romana, então nós somos católicos, nós que nada traduzimos do erro de Orígenes. Mas se sua fé são blasfêmias de Orígenes, ele demonstra que é herege, lançando-me sua acusação de inconstância. Ou a fé daquele que me louva é sã e, por sua própria confissão, ele me associa a si, ou então é errônea, e ele mostra que, se fez meu elogio, é porque acreditava que eu fosse participante de seu erro” (Apologia contra Rufino, [I Livro] 4).

Nunca meu trabalho suscitou algum problema, nunca Roma foi abalada por ele” (Apologia contra Rufino, [I Livro] 8).

Porque não ambicionamos o sacerdócio, nós que estamos escondidos em nossas celas; e não temos pressa, reprovando a humildade, de comprar a preço de ouro o episcopado. Também não temos, em um espírito de revolta, o desejo de degolar o pontífice escolhido por Deus, nem damos a entender que somos hereges, mostrando-nos favoráveis aos hereges” (Apologia contra Rufino, [I Livro] 32).

Sabe, porém, que a fé romana, louvada pela voz do Apóstolo, não admite artifícios desta natureza, e que, mesmo se um anjo anunciasse diferentemente do que foi pregado uma vez por todas, a fé sustentada pela autoridade de Paulo não poderia mudar” (Apologia contra Rufino, [III Livro] 12).

Da comunhão que nos unia, a mim e ao nosso papa Teófilo, eu não invocarei nenhum outro testemunho” (Apologia contra Rufino, [III Livro] 18).

Na epístola de nosso santo papa Anastásio, tu te mostraste inconstante; e na tua agitação, tu não encontras nada em que possas fincar o pé.” (Apologia contra Rufino, [III Livro] 20).


Aliás, que a epístola tenha sido escrita por ele ou que ela não tenha sido, tu atestas que não te cabe em nada, porque tens o testemunho de seu predecessor e que, por amor de tua cidadezinha fortificada, tu desprezaste o pedido de Roma de que tu a honrasses pelo brilho de tua presença. Se tu suspeitas que esta carta tenha sido forjada por mim, por que não a procuras no arquivo da Igreja Romana” (Apologia contra Rufino, [III Livro] 20).


Cartas, segundo o Papa Leão Magno (
430 a 461 d.C):

“Por causa de Pedro, o bem-aventurado príncipe dos apóstolos, a santa Igreja romana possui a primazia (princi-patus) sobre todas as Igrejas do mundo inteiro” (Carta 65,2).


Sermão sobre a transfiguração do Senhor, segundo o Papa Leão Magno ( 430 a 461 d.C):

“O apóstolo Pedro, por revelação do Pai supremo, supera o corpóreo e vai além do humano. Vê com os olhos do espírito o Filho de Deus vivo, confessa a glória da divindade, porque não se detém na substância da carne e do sangue. A sublimidade desta fé agradou tanto ao Senhor que ele o chamou feliz e bem-aventurado e outorgou-lhe a sagrada firmeza da pedra inconcussa, sobre a qual seria fundada a Igreja e contra a qual não prevaleceriam as portas do inferno, nem as leis da morte. Além disso, para ligar ou desligar qualquer causa, não seria ratificado nos céus senão o que sentenciasse Pedro.” (sermão transf. Do Senhor, 1).


Sermão na ascensão do Senhor, segundo o Papa Leão Magno ( 430 a 461 d.C):

“Neles, pelo sopro do Senhor, infundiu-se o Espírito Santo nos apóstolos todos; ao bem-aventurado apóstolo Pedro, com primazia, foi entregue após as chaves do reino, o cuidado das ovelhas do Senhor” (I sermão na ascensão do Senhor, 2).


Sermão sobre a quaresma, segundo o Papa Leão Magno ( 430 a 461 d.C):

“Jejuemos pois, na segunda, na quarta e na sexta-feira; no sábado, porém celebramos as vigílias junto do apóstolo Pedro, que não descuidando do rebanho que lhe foi confiado, conseguirá para nós a proteção de suas preces.” (IV sermão sobre a quaresma, 6).


Sermão de pentecostes, segundo o Papa Leão Magno ( 430 a 461 d.C):

“Jejuemos, pois, quarta e sexta-feira e no sábado celebremos as vigílias junto do bem-aventurado apóstolo Pedro. Que ele patrocine nossas orações a fim de merecermos em tudo a misericórdia de Deus” (II sermão de pentecostes, 9).


Tratado contra a heresia de Êutiques, segundo o Papa Leão Magno ( 430 a 461 d.C):



“Vós, pois, amados de Deus e comprovados pelo testemunho apostólico, vós, aos quais o bem aventurado apóstolo Paulo, doutor dos gentios, diz: “Porque a vossa fé é anunciada em todo o mundo”, guardai em vós o que sabeis que tão grande pregador pensava de vós” (tratado contra a heresia de Êutiques, 3).


VI SÉCULO (501 a 600 d.C)


Regra pastoral, segundo o Papa Gregório Magno ( 591 d.C):

“Compreenderemos mais plenamente em que consiste esse discernimento se considerarmos o exemplo do primeiro pastor. Pela iniciativa de Deus, Pedro ocupava o primeiro lugar na Igreja. Ora, como Cornélio, homem justo, se prostrasse humildemente diante dele, Pedro rejeitou esse excessivo sinal de respeito e, reconhecendo-se semelhante a ele, disse: Levanta-te, não o faças, sou um homem também eu. Quando, porém, descobriu o pecado de Ananias e Safira, imediatamente manifestou de modo claro com qual poder tinha sido posto à frente dos demais. Com uma só palavra, tirou-lhes a vida, vida que ele havia escrutado pelo Espírito, e se recordou, então, de haver a mais alta autoridade na Igreja contra os pecados, coisa que não havia reconhecido quando, vivamente, seus irmãos lhe tributavam honra na presença dos justos” (Regra pastoral [segunda parte – a vida do pastor]; capitulo 6).

“É de fato compreensível, como já dissemos, que os fiéis se desencorajem de ouvir a pregação se o pastor se descuida de dar ajuda nas concretas necessidades. Por isso, o primeiro pastor (Pedro) admoesta com solicitude, dizendo: <Exorto os presbíteros que estão entre vós, eu que sou presbítero como eles, testemunha dos sofrimentos de Cristo e participante da glória que vai ser revelada: apascentai o rebanho de Deus que vos foi confiado> (1 Pd 5,1-2). Recomendava, nessa passagem, dar alimento para o coração ou aquele para o corpo? Ele esclareceu, acrescentando: Provendo às necessidades não por imposição, mas de livre e espontânea vontade, como Deus o quer; não por causa de lucro sujo, mas com generosidade” (Regra pastoral [segunda parte – que o pastor não deixe, nas suas ocupações exteriores, enfraquecer seu cuidado com a vida interior]; capitulo 7).

“Não existe ninguém que viva de modo que não caia em alguma culpa. Deseja, por conseguinte, ser amado mais do que a verdade aquele que pretende, contra toda a evidência, que ninguém lhe deva perdoar alguma coisa. Por isso, Pedro acolheu de boa vontade a repreensão de Paulo, e Davi ouviu com humildade a correção de um súdito. Assim, os verdadeiros pastores não cultivam sentimentos de amor-próprio e consideram humilde gentileza uma palavra livre e clara por parte dos fiéis” (Regra pastoral [segunda parte – que o pastor não se proponha a agradar aos homens com seu zelo]; capitulo 8).

“Levantem sem demora a arca do testamento e ensinem com prontidão quando se apresenta a necessidade. Por isso, diz bem o primeiro pastor (Pedro) da Igreja exortando os outros pastores: <Sempre prontos a responder a todo aquele que vos pedirá a razão da esperança que está em vós> (1 Pd 3,15)” (Regra pastoral [segunda parte – quando o pastor de almas deve se aplicar a meditar a lei divina]; capitulo 11).

“Por isso, Pedro, vendo que alguns estavam aterrorizados pelo espetáculo das suas ações iníquas, lhes dá este aviso: <Arrependei-vos e cada um de vós se faça batizar> (At 2,38). Antes de falar do batismo, ele falou das lágrimas de arrependimento, para que antes se imergissem na água da própria aflição e, em seguida, se lavassem pelo sacramento do batismo. Por conseguinte, aqueles que não se preocupam de chorar os pecados cometidos, com que ânimo vivem seguros de obter o perdão, se o mesmo sumo pastor da Igreja (Pedro) considerou que se devesse acrescentar a penitência ao sacramento instituído, sobretudo com a finalidade de extinguir os pecados?” (Regra pastoral [terceira parte – É preciso admoestar de modo diferente aqueles que choram os próprios pecados]; capitulo 30).


CONCLUSÃO

A fé da Igreja é inegável, sagrada, santa e verdadeira.

A crença de que São Pedro foi o primeiro líder da Santa Igreja e de que seus sucessores possuem missão continua e inacabada na Igreja de Deus, perdura desde os primeiros tempos apostólicos.

É interessante afirmar que grande parte dos textos posteriores às escrituras, demonstram total coerência com os versos bíblicos que atestam o ministério petrino, sendo assim, crer na missão encabeçada por São Pedro é um ato totalmente bíblico e histórico.

Tornado-se acesa a discussão, levantou-se Pedro e disse: <Irmãos, vós sabeis que, desde os primeiros, aprouve a Deus, entre vós, que por minha boca ouvissem os gentios a palavra da Boa Nova e abraçassem a fé (At 15,7).

OBS: Esse texto sofrerá modificações à medida que, novas citações sejam encontradas.