INTRODUÇÃO
“Maria,
uma virgem não profanada, Virgem tornada inviolável pela graça, livre de toda
mancha do pecado” (Ambrósio de
Milão; Sermão 22,30; +337 d.C)
A virgindade de Maria Santíssima, nunca foi
objeto de um debate tão infrutífero como o que vivemos atualmente. São inúmeras
as contradições apresentadas pelos mais variados “teólogos” que procuram
desacreditar em algo que sempre, foi matéria de fé para os cristãos primitivos.
Assim como outros artigos, minha responsabilidade recai sobre a verdade em
apresentar provas concretas da fé de mais de dois mil anos.
Para facilitar a leitura do texto, separei
por tópicos os principais questionamentos levantados sobre o tema:
A – Entendendo o termo “Até que”;
B – Entendendo o termo “Primogênito”;
C – Entendendo os termos de parentesco do Aramaico,
Hebraico e Grego;
D – A Sagrada Família (Jesus, Maria e
José);
E– Jesus, o filho de Maria;
F – Quem são os irmãos de Cristo? Filhos da
mesma Maria?
G – João 19,26-27 (Mulher, eis ai teu
filho);
H– O salmo Messiânico (69);
I – Conclusão
A – Entendendo o termo “Até
que”
Mt 1,25 – “E não a conheceu até que deu à luz seu filho, o
primogênito; e pôs-lhe por nome Jesus.
Em um
debate teológico, a utilização desse verso do evangelho de São Mateus, sempre é
o carro chefe para os que procura dizer que após o parto, São José teria tido relações
sexuais com Maria Santíssima. Se lermos essa passagem isoladamente e sem
qualquer compreensão do ambiente vivido pelos hebreus, teremos à clara
impressão de que o escritor, de fato, queria transmitir essa mensagem, porém,
uma análise elaborada de outros versos, irá revelar-nos a compreensão correta
do que a Igreja sempre entendeu, desde os tempos apostólicos.
É necessário entender que essa partícula
das escrituras, não confirma e nem afirma a virgindade perpétua de Maria. “Até que” é um termo comum empregado no
vocábulo hebraico que normalmente designa para a confirmação de “ações passadas”
sem indicações para acontecimentos futuros. Neste caso, o uso é empregado
para enfatizar que a concepção do Cristo, foi tida por uma mulher que não tinha
tido qualquer contato sexual, no caso, Jesus nasceu sem que Maria tivesse
coabitado com José.
Mt 28,20 – “Ensinando-os a
guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco
todos os dias; até a consumação
dos séculos. Amém”.
O texto do capítulo vinte e oito do evangelho de Mateus,
possui a mesma essência hebraísta do cenário vivido por Maria e José. Jesus
afirma que estará conosco “até” a consumação dos séculos, isto é, o fragmento
não afirma que após a consumação dos séculos, nosso Senhor nos deixaria, ao
contrário, o escritor manifesta que o amor infindável do Cristo permanecerá até
o fim.
2 Sm 6,23 – “E
Mical, a filha de Saul, não teve filhos, até o dia da sua
morte”.
Se aplicarmos o princípio interpretativo de alguns teólogos,
seríamos obrigados a pensar que se “Maria
teve relações sexuais com José” Mical, a filha de Saul, teria tidos filhos
a pós a “sua morte”. É impossível
pensar que essa possibilidade existisse e o escritor do livro de Samuel, ao
usar o termo “até”, jamais quis afirmar essa probabilidade, ao contrário, o
fragmento está afirmando o que ocorreu no passado: a filha do primeiro Rei
de Israel, não teve filhos.
Sl 110,1 – “[Salmo
de Davi] Disse o SENHOR ao meu Senhor: Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus inimigos por
escabelo dos teus pés”.
Aqui, temos mais um caso onde o “Até que”, nada conclui do futuro. Ou
será que após o Senhor colocar os inimigos aos seus pés, o Salvador não poderia
sentar-se a direita de Deus? Sendo assim, o uso desse termo para indicar
que Maria Santíssima teria coabitado com José, não passa de sofisma, uma vez que,
o uso dessa palavra pelo evangelista, implica em apontar que o nascimento de
Cristo se deu por milagre, já que, Maria Santíssima havia concebido o salvador
por intermédio do Espírito Santo.
B – Entendendo o termo
“Primogênito”
Mt 1,25 – E não a conheceu
até que deu à luz seu filho, o primogênito;
e pôs-lhe por nome Jesus.
Ainda que o uso do termo “primogênito”
possa significar o primeiro de muitos outros filhos, engana-se quem acredita
que essa definição seja a única a ser compreendida. Há quem entenda que o fato
do evangelista usar essa palavra, implica necessariamente que a Mãe de Cristo
tivesse outros filhos, já que, o primogênito revelaria o primeiro de uma
ninhada de filhos. Para completar, mencionam que se Jesus Cristo não tivesse
irmãos de sangue, o escritor teria usado “unigênito”, assim como especificado
na passagem de Jo 3,16.
Uma rápida verificação nos escritos
bíblicos, nos concederá algumas informações importantes sobre o porquê dessa
argumentação, ser desprovida de qualquer entendimento teológico. Basta
procurarmos o termo “unigênito” em outras passagens do velho ou do novo testamento.
Encontramos em Gn 22,12, o Anjo do
Senhor afirmando a Abraão que não permitiria que ele ceifasse seu “único” filho
ou em Zc 12,10 onde, está escrito que o sofrimento
pelo único ou pelo primeiro filho é igual, isto é, a grande verdade é que em praticamente
todos os casos onde à bíblica trata de primeiro ou único filho, o termo sempre
usado é “primogenitura” e por quê?
Encontramos a resposta no livro do Êxodo:
Ex 13,2 – “Consagra-me
todo primogênito, todo o que abre o útero materno,
entre os filhos de Israel. Homem ou animal serão meus”.
Em quase toda a literatura bíblica, todas às vezes que havia
o nascimento de uma criança, esse (a) por sua vez, era o primogênito e isso não
significava a existência de outros irmãos. Ao contrário, aquele que “abria o
útero” materno, seja ele filho único ou não, carregaria a primogenitura.
Ex 34,19 – “Todo
o que sair por primeiro do seio
materno é meu: todo macho, todo primogênito (...)”.
O evangelista João, ao usar a palavra “unigênito” para Jesus
(Jo 3,16), estava afirmando a
existência do único filho de Deus como Senhor e Salvador de todo o mundo.
Maria Santíssima, ainda que toda pura e
toda santa, recebeu dos autores do evangelho, o termo corrente de toda
escritura ao falar do “primeiro” filho, ainda que, Ela tivesse tido apenas
Jesus. Um exemplo claro do uso da
palavra primogênito pelos escritores bíblicos ao indicar aquele que “abre o
útero da mãe”, sem que signifique a existência de irmãos, está registrado no
segundo livro do Pentateuco:
Ex 12,29 – “E
aconteceu, à meia noite, que o Senhor feriu a todos os primogênitos da terra do
Egito, desde o primogênito do
Faraó, que se sentava em seu trono (...)”.
A escritura não narra que o Faraó possuía outros filhos e sim, apenas
um, porém, ao relatar que o Senhor iria ferir todos os primogênitos do
Egito e enfatizar o filho do rei egípcio, o autor recorre ao termo corrente para seu
único filho: “o Senhor feriu a todos os primogênitos da terra do Egito,
desde o primogênito do Faraó”.
C – Entendendo os termos de
parentesco do Aramaico, Hebraico e Grego.
Para entendermos a virgindade de Maria, se
faz necessário visualizar as línguas originais, onde, às sagradas escrituras
foram escritas. E por qual motivo, torna-se isso importante? Através das palavras que aqui
serão apresentados, poderemos entender que cada termo designado aos chamados
“irmãos do Senhor”, não designam a literalidade no parentesco como normalmente algumas traduções tendem à indicar.
A língua falada na época por Cristo era o aramaico
e o antigo testamento, inicialmente, fora escrito em hebraico e posteriormente
traduzido para o grego através da versão dos setenta (LXX – Septuaginta). Para essas duas línguas (aramaico e hebraico), não existia um termo que definisse o grau de parentesco,
isto é, para definir irmãos, primos, sobrinhos o único termo presente era o “AHA” (aramaico)
e o “AH” (hebraico). Um
exemplo clássico do uso dessas palavras, pode ser encontrado em Gn 13,8 onde, às traduções demonstram Abraão
chamando Ló de seu irmão, porém, ele era seu sobrinho (Gn 11,27-28). Dessa forma, podemos encontrar em toda a escritura, situações similares a essa no que diz respeito à formação de famílias tribais e
do respectivo uso desses termos sem que, fossem definidos os graus de
familiaridade. Já o novo testamento, foi escrito em um ambiente “semítico”,
isto é, embora os livros estejam em grego, para os autores, foi apropriado que
se conservasse o linguajar judaico da época.
No grego, encontramos a palavra “adelphos” que possui o mesmo sentido dos
termos aramaicos e gregos, isto é, para essa palavra, seu uso poderia ser
adequado a qualquer grau de familiaridade, seja ele sanguíneo ou não. O termo
Adelphos, concede-nos uma amplitude na interpretação que corrobora com toda a
tradição da Igreja e dos primeiros padres que viam nos irmãos do Senhor,
parentes ou primos. Vejamos alguns exemplos:
Na primeira epístola de São Paulo
aos Coríntios, o apóstolo escreve que Cristo apareceu a mais de “500 irmãos”.
1 Cor 15,6 – “Depois
apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma vez, dos
quais a maior parte ainda vive (e alguns já são mortos)”.
1 Cor 15,6 – ἔπειτα ὤφθη ἐπάνω
πεντακοσίοις ἀδελφοῖς ἐφάπαξ, ἐξ ὧν οἱ πλείους μένουσιν ἕως ἄρτι, τινὲς δὲ καὶἐκοιμήθησαν
Ao olharmos os versículos que os parentes do Senhor
aparecem, podemos perceber que a palavra utilizada no grego é a mesma:
Mt 13,55 – “Não é ele o filho do carpinteiro?
Não se chama a mãe dele Maria e os seus irmãos Tiago,
José, Simão e Judas”?
Mt 13,55 – μιϲ ουχ ουτοϲ ε ϲτιν ο του τεκτο
νοϲ υϲ ουχ η μηρ
αυτου λεγετε μα ριαμ και οι αδελφοι
αυτου ϊακω βοϲ και ϊωϲηφ και ϲιμων και ιου
É importante afirmar que a palavra “primo”
no grego, possui tradução, sendo ela “anépsios”,
porém, o único emprego dela, está novo testamento e encontra-se em Cl 4,10:
Cl 4,10 – Saúda-vos
Aristarco, meu companheiro de prisão, e Marcos, primo de Barnabé.
São muitos os que procuram encontrar nesse
único verso, um refúgio teológico para afirmar que se Cristo tivesse primos,
essa deveria ser a palavra usada. Como já mencionado neste artigo, os
evangelhos que descrevem os irmãos de Cristo, foram escritos em um ambiente
semítico, isto é, o termo apropriado que contemplaria o uso da língua mãe do
povo, seria adelphos. Assim como as
palavras do hebraico e aramaico não poderiam trazer uma melhor aproximação
familiar, os evangelistas usaram um substantivo do grego que obtivesse o mesmo
peso gramatical para os viventes daquela região.
São Paulo, o responsável pelo único uso de anépsios nos escritos neo-testamentários,
aos escrever aos Colossenses, não estava traduzindo um ambiente vivido pelos
judeus e sim, escrevendo em grego koiné
(forma popular da língua) para
cristãos que residiam no império grego-romano, isto é, longe de qualquer
cenário semita e com intenções diferentes das palavras do evangelho que foram
traduzidas do próprio aramaico, idioma esse, falado por Jesus e seus apóstolos.
Dessa forma, “adelphos” (grego), “aha” (aramaico) e “ah” (hebraico)
encontram-se em plena conformidade com a orientação do ensino antigo dos
primeiros padres da Igreja.
Outro fator importante de se mencionar
sobre os termos gregos, encontra-se no livro de Tobias, capítulo 7 (sete), onde, Raguel é apresentado
como parente de Tobit (pai de Tobias).
No verso 2 (dois) Raguel vira a sua esposa e intrigado pela aparência de Tobias, menciona que ele parecia muito com seu “primo”:
Tb 7,2 – καὶ εἶπε Ραγουὴλ ῎Εδνᾳ τῇ γυναικὶ αὐτοῦ· ὡς ὅμοιος ὁ νεανίσκος Τωβὶτ τῷ ἀνεψιῷ.
Tb 7,2 – Disse à sua esposa Efna: “Como esse
rapaz se parece com meu primo Tobit!”.
Avançando dois versos (4), percebemos que a palavra usada já
não é mais primo (τῷ ἀνεψιῷ) e sim, irmão (ἀδελφὸν), ambas, possuindo o mesmo significado:
Tb 7,4 – “Conheceis
Tobit, nosso irmão?” – “Conhecemos sim”, responderam – “Ele está bem?”
É fato que Tobias e Raguel faziam parte da mesma tribo que
era a de Neftali, porém, Tobias era filho de Tobiel (Tobit) enquanto Raguel poderia ser primo ou irmão de seu pai, porém,
em um primeiro momento, ele o chama de primo (vr 2) e logo após, irmão (vr
4). Aqui, são usados os dois empregos das palavras para designar uma
questão de parentesco por um mesmo clã. Sendo assim, podemos perceber que até mesmo “anépsios” em determinados contextos,
pode refletir a realidade de irmãos ou parentesco de mesmo sangue. Dessa forma, entendemos que à Igreja Católica, sempre ensinou que o uso na escrita para a palavra
adelphos é amplo e não indica a irmandade sanguínea de Cristo e sim um
parentesco próximo.
D – A Sagrada Família (Jesus,
Maria e José).
Lc 2,41-42 – Ora,
todos os anos iam seus pais (José e Maria) a Jerusalém à festa da
páscoa; E, tendo ele (Jesus) já com doze anos, subiram a Jerusalém,
segundo o costume do dia da festa.
Um dos primeiros indícios que identificamos
nas sagradas escrituras a respeito da particularidade da sagrada família, encontra-se nas passagens do evangelho de Lucas. Anualmente,
José e Maria subiam a Jerusalém em decorrência das festividades da Páscoa e
seguindo aquilo que está registrado, Jesus sempre estava ao lado deles. Naquela
época, era comum que as famílias judaicas possuíssem muitos filhos e até pela
pouca estrutura, a descendência era muito numerosa (1 Cr 15,5 e 1 Cr 16,38).
Seria improvável pensar que aos 12 anos de idade, os irmãos do Cristo não estivessem
ao lado de seus pais. Levando em consideração que a distancia entre Nazaré e
Jerusalém sobressaia os 100 km, é estranho pensar que seus pais tivessem
deixado seus filhos em Nazaré e viajado apenas com menino Jesus. No cenário
aqui mencionado, já é possível visualizar a sagrada família composta apenas
pelo Senhor e seus pais. Dessa forma, possuímos aqui indícios primários que de
fato, Maria não teve outros filhos a não ser o próprio Jesus.
Se a Virgem Santíssima e São José, seu esposo,
tivessem outras crianças, não seria problemático pensar que no relato acima,
apenas Jesus, com 12 anos, estava com seus pais? Onde estavam as outras
crianças?
E – Jesus, o filho de Maria.
É comum que ao lermos a bíblia, deparemo-nos
com diversas genealogias, sendo que, em quase todas as citações, os escritores
procuram ligar a origem do filho(a) ao nome do Pai. Assim como em Mt 10,2 onde, Tiago e seu irmão João são
filhos de Zebedeu. No evangelho de Marcos, verificamos uma exceção com a
citação da filiação de Jesus.
Vejamos:
Mc 6,3 – Este
não é o carpinteiro, o filho de Maria, irmão
de Tiago e José, Judas e Simão?
Percebam o que há de curioso nesse
versículo: Jesus é ligado à filiação direta de Maria Ss, isto é, mencionado
junto à mulher (Gn 3,15; Ap 12,1) e não ao homem. A expressão
utilizada pelo evangelista São Marcos (filho
de Maria; do grego uiós Marias) denota de grande importância, uma vez que,
em quase todos os relatos, a ligação de Jesus com Maria é nítida, porém, seus
irmãos nunca são inseridos nesse ambiente. Os irmãos do Senhor nunca são
chamados de filhos de Maria e até
estranhamente, não aparecem ligados ao suposto pai José. A grande verdade é que, não há qualquer lugar da escritura que mencione os supostos irmãos de Jesus
como filhos de Maria ou José.
Somente Jesus Cristo é o “filho de Maria”.
F – Quem são os irmãos de
Cristo? Filhos da mesma Maria?
Há dois artigos de grande importância no blog, onde, procuro
detalhar a questão dos “irmãos do Senhor”.
A leitura esclarece e revela a verdade que é mantida a mais
de dois mil anos pela Santa Igreja.
G –
João 19,26-27 (Mulher, eis ai teu filho).
Jo
19,26-27 – “Jesus
viu a mãe e, ao lado dela o discípulo que amava. Então disse à mãe: “Mulher,
eis ai o seu filho”. Depois disse ao discípulo: “Eis ai a sua mãe”. E dessa
hora em diante, o discípulo a recebeu em sua casa”.
João
não era filho de Maria e tão pouco parente de Cristo. João era de fato, assim
como narra os evangelhos, o apostolo muito amado, filho de Salomé e Zebedeu (Mt
10,2). Aos pés da cruz, observamos uma situação inusitada: Jesus entrega
sua mãe aos cuidados do discípulo, sendo que ele, não era seu
familiar.
Alguns
teólogos, com base em passagens isoladas, afirmam que Maria tinha muitos
filhos, sendo assim, não seria totalmente contraditório pensar que Nossa
Senhora fosse entregue a outra pessoa, já que ela possuía filhos e filhas? De
certo modo, não seria necessário (re)afirmar a certeza que temos em dizer que Maria Ss, não possuindo outros filhos e José, sendo
pai adotivo do Senhor e já estando morto, Jesus Cristo estaria entregando sua
mãe aos cuidados de João, pois, a virgem não possuía qualquer descendência.
Se Maria Santíssima
possuía de fato quatro filhos homens e algumas
filhas mulheres, seria ilógico pensar que por mais que seus filhos não
acreditassem nas palavras de Jesus e sendo incrédulos, repassassem essa irá
para a Mãe ao ponto de não recebê-la na própria casa! Desacreditar no evangelho
era um ponto típico da fraca fé da população local, agora, desrespeitar um dos
dez mandamentos (Ex 20,12), seria algo infundado.
É
certo que Nosso Senhor, entregou Maria SS aos cuidados de João, pois, ela não
possuía filhos que pudessem dar a ela o devido cuidado.
Lembre-se
das palavras de Jesus: “Mulher, eis ai o SEU FILHO” – “Eis ai a TUA MÃE”.
H – O salmo Messiânico (69).
O Salmo 69 é muito conhecido por tratar-se
de uma poesia messiânica. O texto é um reflexo da vida de Nosso Senhor Jesus
Cristo:
Sl 69,21 – Deram-me
fel por mantimento, e na minha sede me deram a beber vinagre.
Jo 19,9 – Estava,
pois, ali um vaso cheio de vinagre. E encheram de vinagre uma esponja, e,
pondo-a num hissope, lhe chegaram à boca.
Pelo fato do salmo, possuir algumas
passagens consideradas como “proféticas”, já que, ilustra o terrível sofrimento
do Cristo, muitos sãos o que os procuram justificar a existência de outros
filhos de Maria, por conta de um único e isolado verso. Embora todos os versos façam clara
referência ao “servo sofredor”, é necessário ler cuidadosamente cada palavra,
para que assim, não caímos em heresia.
Leiamos o versículo:
Sl 69,9-10 – Tenho-me
tornado um estranho para com meus irmãos, e um desconhecido para com os filhos
de minha mãe, pois o zelo da tua casa me devorou, e as afrontas dos que
afrontam caíram sobre mim.
Aqui fica a
pergunta: se o salmista diz que o messias seria desconhecido aos “filhos de sua
mãe”, como entender a virgindade perpétua de Maria? Pois bem, se estamos
tratando de um verso profético, precisamos encontrar seu contexto no novo
testamento. Sendo assim, ao lermos o evangelho segundo São João, encontramos
algumas semelhanças com a passagem mencionada acima.
Vejamos:
Jo 2,14-17 – E
achou no templo os que vendiam bois, ovelhas, e pombos, e os cambiadores e
assentados. E tendo feito um azorrague de cordéis, lançou todos fora do templo,
também os bois e ovelhas; e espalhou o dinheiro dos cambiadores, e derribou as
mesas; e disse aos que vendiam pombos: Tirai daqui estes, e não façais da casa
de meu Pai casa de venda. E os seus discípulos lembraram-se do que está
escrito: o zelo da tua casa me devorará.
Encontramos nas duas passagens, dois pontos
similares:
1 – Sl 69,10 – “O zelo ta sua casa me
devorou”;
2 – Jo 2,17 – “O zelo da tua casa me
devorará”.
Analisando todo o contexto do momento em
que Cristo subia a Jerusalém e do seu encontro com os vendilhões no templo,
passamos a perceber qual é o real significado da profecia ter se cumprido nEle
ao lermos que: os “filhos da sua mãe não o reconheciam”. Jesus havia tornado-se
estranho para a grande maioria dos judeus que faziam parte do povo escolhido,
isto é, “seus irmãos” de sangue, o povo de Israel que deveria reconhecê-lo como
o salvador, vira as costas para seus ensinos. O contexto aplicado a esta
passagem, não deve ser entendido no aspecto familiar, mas sim, no
âmbito de que o messias, sendo profeta, não era bem recebido entre o seus:
Lc 4,24 – E
disse: Em verdade vos digo que nenhum profeta é bem recebido na sua pátria.
Sendo assim, na sinagoga, os judeus se
enchiam de ira contra o Senhor (Lc 4,28).
É muito claro que a “mãe” profetizada no
Salmo, não é Maria e sim, a representação do templo, onde, o Cristo, cheio de
zelo para com à casa de Deus, torna-se estranho para aqueles que deveriam ser
seus irmãos de fé. Percebam que as pessoas que estavam na sinagoga,
desacreditavam no Senhor e o questionavam dizendo: “Que sinal nos mostras para fazeres isto?” (Jo 2,18). Jesus ao
responder que derrubaria o templo e o edificaria em três dias (Jo 2,19), recebe como resposta, apenas
afirmações vazias e cheia de ironia: “Disseram,
pois os judeus: em quarenta e seis anos foi edificado este templo, e tu o
levantareis em três dias?” (Jo 2,20).
Sendo assim, é possível entender o porquê
os discípulos lembraram-se do Salmo 69
que menciona que o “Zelo da tua casa o
devorou” (Jo 2,17). Na continuidade
do versículo, o salmista diz que as “afrontas
dos que afrontaram caíram sobre mim”, apontando assim que os que deveriam
de fato crer, foram os que não quiseram, no caso, o povo hebreu.
Jo 2,17 – E os seus discípulos lembraram-se do que
está escrito: O zelo da tua casa me devorará.
CONCLUSÃO
Is 7,14 – Portanto
o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um
filho, e chamará o seu nome Emanuel.
É inegável afirmar esse grandioso mistério
que a Igreja sempre defendeu desde o início. Qual religião possui um Deus, que
desceu do seu trono de glória, habitou em um templo santo que era o ventre de
Maria santíssima e contrariando todas as leis normais, foi concebido na
graciosidade da virgindade de uma mulher? Somente nós, Cristãos Católicos
podemos afirmar que essa religião é a qual nós pertencemos. A virgindade
de Maria, foi um ato profético que transcende os séculos e nos da à certeza de que
para Deus, nada é impossível (Lc 1,37).
Confiemos neste mistério.
Assim como às tabuas da Lei foram
carregadas na Arca da Aliança e de lá, Deus habitava (Ex 40,35), seria necessário que Cristo, o Deus conosco, também
habitasse em um tabernáculo e esse templo foi encontrado em Maria que preservou
sua vocação como a Mãe de Deus (Lc 1,43).
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