“E de onde me provém isto a mim, que venha
visitar-me a MÃE DO MEU SENHOR?” (Lc
1,43)
Jesus é o próprio
Deus encarnado, aquele que haveria de vir para redimir o gênero humano de sua
maldade, o princípio e o fim, o alfa e o ômega (Ap 22,13). Ainda que primitivamente, o Cristo não fosse revelado
aos homens como o próprio Deus (parte
integral e perfeita da Trindade), é possível encontrar em alguns textos do
novo testamento (e até mesmo do velho)
indícios que a humanidade de Jesus, estava completamente inundada por sua
divindade. Embora, na carta aos Hebreus, o escritor tenha mencionado com total
clareza e verdade que o messias não poderia ter qualquer descendência (Hb 7,3), uma vez que era a própria
divindade, a Igreja sempre acreditou, com base nos textos bíblicos, que a natureza
que habitava no Senhor era do próprio Deus. João ao iniciar seu evangelho,
concede-nos duas chaves interpretativas para desvendar esse mistério:
1 - No
princípio (Gn 1,26), o verbo era o
próprio Deus:
Jo 1,1 – “No
princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus”.
2 - O
verbo (que era Deus) habitou no meio
de nós:
Jo 1,14 – “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós
e nós vimos a sua glória que ele tem junto ao Pai, como Filho único, cheio de
graça e de verdade”.
O “verbo”, “palavra”
ou o “logos” é o próprio Jesus, que enviado por Deus Pai (Jo 3,16), cumpriu a sua missão salvadora e concedeu-nos a oportunidade
de termos a vida eterna. Cristo enquanto homem, também foi (é) Deus e a Igreja
Católica, desde o início, entendeu essa unidade mística e misteriosa,
chamando-a de “união hipostática”, onde, as duas naturezas de Jesus
encontraram-se plenamente unidas, a partir do momento em que houve a fecundação
do salvador no seio virginal de Maria Santíssima.
Há muitas
contestações por conta de alguns escritores, que insistem em afirmar que as
escrituras, nada dizem sobre a “maternidade divina de Maria”, simplesmente pelo
fato de Maria ser chamada de a “Mãe de Jesus”. Pois bem, grande parte do
direcionamento teológico da Igreja, parte de um único verso do evangelho que
afirma integralmente que de fato, Jesus era o próprio Deus e que Maria era
digna de ser chamada de “Mãe de Deus”.
O evangelista Lucas,
um dos responsáveis por nos conceder grande parte das informações que possuímos,
ainda que primitivamente da virgem Maria, narra o momento em que Isabel revela
a vocação de sua parenta. No primeiro capítulo de seu evangelho, podemos
compreender de forma simples o entendimento católico sobre o termo “Theotókos”
(mãe de Deus):
1 - Isabel
ao ouvir a saudação da virgem, ficou repleta do “Espírito Santo”:
Lc 1,41 – “Ora,
quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança lhe estremeceu o ventre e
Isabel ficou repleta do Espírito Santo”.
2 - Falando
aquilo que o próprio Espírito a revelava, Isabel diz que não há qualquer mulher
semelhante à Maria:
Lc 1,42 – “Com um
grande grito, exclamou: ‘Bendita és tu entre as mulheres e bendito é fruto de
teu vente’”.
3 - Isabel
conclui sua fala, indicando a vocação da “maternidade divina” da Mãe de Deus:
Lc 1,43 – “Donde me
vem que a ‘mãe do meu Senhor’ me
visite?”.
Isabel fala aquilo
que o Espírito Santo a inspira a dizer. Não há nada dito mediante a “carne” e
sim, através do espírito. “Senhor” é o título divino que o evangelista atribui
a Jesus Cristo, este por sua vez, totalmente homem e totalmente Deus, isto é,
quando a parenta de Maria diz que ela (Maria) era a “mãe do seu Senhor”, afirma
com palavras vindas do alto que a união que existiria entre a criança e esse
bendito fruto, seria o inicio de uma nova era que traria a salvação ao povo,
uma vez que, a natureza que ali habitava era do próprio Deus.
Isabel era uma
simples mulher, esposa do sacerdote Zacarias e provavelmente, por conta de ser
esposada de um homem que realizava serviços no templo, jamais, ousaria chamar o
que quer que seja de “Senhor”, se assim não fosse o próprio Deus, entretanto,
ela estava inundada pela força do Santo Espírito e ao proclamar tais palavras,
afirma com total verdade que Maria, era a mãe do seu Senhor, logo, a mãe do seu
único e verdadeiro Deus.
Partindo desse
princípio, e contrariando as principais vertentes cristãs que insistem em dizer
que a Igreja Católica ensina que Maria é “mãe da eternidade” do Cristo,
afirmamos que o ensino perpétuo da fé católica é de atribuir o título de “Mãe
de Deus” em consequência da natureza divina do filho eterno, consubstancial ao
pai, que se fez homem e habitou em um corpo humano. Dessa forma, Maria torna-se
a portadora de Deus que gerou, a partir do nascimento, não a essência divina e
sim, a união hipostática das duas naturezas que habitariam em um único corpo: a
deidade e a humana.
O catecismo da
Igreja Católica (CIC) expõe o dogma da “Theotókos” de uma forma simples e
acessível:
CIC 495 -
“Denominada nos evangelhos “a Mãe de
Jesus” (Jo 2,1; 19,25), Maria é aclamada, sob o impulso do Espírito, desde
antes do nascimento de seu Filho, como “a Mãe de meu Senhor” (Lc 1,43). Com
efeito, aquele que ela concebeu do Espírito Santo como homem e que se tornou
verdadeiramente seu Filho segundo a carne não é outro que o Filho eterno do
Pai, a segunda pessoa da Santíssima Trindade. A Igreja confessa que Maria é
verdadeiramente a Mãe de Deus (Theotókos)”.
Essa intima união que
fez das duas naturezas de Cristo (homem e divina) um mistério para a
humanidade, foi compreendida pela Igreja como verdade imutável e dizer ao
contrário disso, seria afirmar a crença em uma heresia denominada de nestorianismo,
onde seu propagador foi “Nestório” que era bispo de Constantinopla. A heresia nestoriana, propunha um Jesus
“dividido” em duas naturezas distintas, isto é, Maria deveria ser mãe apenas do
Jesus homem, enquanto o Jesus divino era filho de Deus. Essa divisão causou certo
desconforto durante os embates existentes dos membros da Igreja, uma vez que, a
sugestão de Nestório, trazia dois Jesus diferentes e não apenas um (em unidade
de naturezas), como a fé católica afirmava.
Mediante a isso, o
concílio de Éfeso foi convocado para afirmar a ortodoxia católica e defender a verdade
imutável. O conciliou confessou que:
“O Verbo, unindo a
si em sua pessoa uma carne animada por uma alma racional, se tornou homem” (CIC 466).
E continua:
“Mãe de Deus não
porque o Verbo de Deus tirou dela sua natureza divina, mas porque é dela que
ele tem o corpo sagrado dotado de uma alma racional, unido ao qual, na sua
pessoa, se diz que o Verbo nasceu segundo a carne” (CIC 466).
Aproximadamente 250 Bispos estiveram reunidos na
intenção de confirmar a Fé e a verdade. O concílio foi apoteótico e de uma
atmosfera de puro confronto, um verdadeiro marco na história. Dizer que Maria
não é mãe do verbo encarnado é ir contra a própria escritura que possuí
testemunho claro de que o próprio Jesus, era totalmente homem e totalmente
divino.
É assim que a literatura evangelística de Mateus
nos ensina ao escrever as palavras do Anjo a José, por meio de um sonho:
Mt 1,23 – “Eis que a virgem conceberá e
dará a luz um filho e o chamarão com o nome de Emanuel, o que traduzido
significa: ‘Deus está conosco’”.
Infelizmente, uma
grande parte de cristãos não católicos, aderem à heresia nestoriana, sem mesmo
saber de suas características, outros talvez, rejeição a verdade por falta de
profundidade teológica.
Para concluirmos, é
necessário entender três pontos:
1 – Embora Maria
tenha concebido o próprio Deus, não seria correto afirmar que em sua
eternidade, isto é, fora do tempo, Jesus tenha uma mãe, um pai ou algum
parente. Anterior a tudo e a todos, o primeiro e o último, o início e o fim.
Maria é Mãe de Deus segundo o verbo encarnado, sua natureza (Cristo) é eterna e
consubstancial ao Pai, porém, a união com a realidade humana, junto do seu ser
divino, fazem de Jesus verdadeiro Deus e verdadeiro Homem (união hipostática)
unidos em uma única pessoa.
2 – Dentro do tempo,
Cristo possui uma mãe a qual a Igreja durante os séculos a identificou como a
Theotókos. É importante mencionar que se Igreja Católica no Concílio de Éfeso (431)
não afirmasse essa verdade de fé, poderia ocorrer uma grande catástrofe, uma
vez que, muitos incultos e até mesmo os mais entendidos poderiam pensar que por
Maria não ser mais a Mãe de Deus, Cristo por consequência, poderia já não ser
mais o próprio Deus.
3 – É importante
repousarmos firmemente nas decisões da Igreja que defendeu (com auxilio do Espírito Santo) algo que
sempre foi entendido por unanimidade entre padres e bispos, afinal, para
resguardar a natureza de Cristo que é o próprio Deus, foi afirmada com total
veemência a maternidade divina da virgem, uma vez que, Jesus em sua caminhada
terrena, além de ser homem, era e é o próprio Deus.
Em Cristo Jesus;
Érick Augusto Gomes
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