A Igreja se moldou, se molda e continua se moldando até os dias atuais e isso não tira o mérito de sua santidade, já que Nosso Senhor Jesus Cristo é a cabeça e sua promessa é fiel (Mt 16,18). Muitos erram em pensar que após a morte do último apóstolo não havia se estabelecido uma “doutrina formal”. A questão é que sim, havia algo consolidado em que se acreditar e as escrituras, embora já distribuídas em cartas e evangelhos por muitas comunidades, ainda não tinham uma homogeneidade, já que foram necessários os concílios chamados “ecumênicos” (Nicéia [325], Constantinopla I [381], Éfeso [431], Calcedônia [451], Constantinopla II [553], Constantinopla III [680], Nicéia II [787]) que estabeleceriam as verdades de fé (Consubstancialidade de Cristo com o Pai, confirmação do credo apostólico, natureza de Jesus, maternidade divina de Maria [Theotókos], afirmação do uso de imagens contra os iconoclastas e etc.) e determinariam os livros sagrados considerados canônicos por toda a Igreja.
É claro que inicialmente houve por parte de alguns grupos e homens de má fé uma disseminação de falsas doutrinas (nicolaítas, marcionismo, montanismo, gnosticismo, maniqueístas, arianismo), entretanto, a prova mais clara e concreta do estabelecimento de comunidades visíveis que já gozavam de hierarquia e dependência doutrinal está no próprio livro das revelações:
Ap 1,11 - O que vês, escreve-o num livro e manda-o às
sete igrejas: a Éfeso, a Esmirna, a Pérgamo, a Tiatira, a Sardes, a Filadélfia
e a Laodicéia.
Apesar das cartas serem endereçadas por motivos em que era necessário a
correção, as comunidades citadas antes mesmo da morte de São João já
sintonizavam com o fato de que ensinos concretos eram vivenciados pelos
primeiros cristãos, corroborando até com o trecho da primeira carta de São
Paulo a Timóteo:
I Tm 3,15 - Todavia, se eu tardar, quero que saibas
como deves portar-te na casa de Deus, que é a Igreja de Deus vivo, coluna e
sustentáculo da verdade.
Muitos pensam como se no início do século da era primitiva tudo o que
havia de puro, houvesse se perdido de forma suja e isso é desonesto. Há quem
diga que a Igreja Católica foi criada por Constantino, mas, poucos sabem que o
Imperador Romano apenas concedeu a liberdade de culto aos cristãos através do
“Edito de Milão” (313) findando as perseguições aos seguidores do Cristo, sendo
que oficialmente a religião cristã seria apenas confirmada no ano 380 no
reinado de Teodósio I através do “Edito de Tessalônica”. A questão é que por
pior que fosse o início conturbado dentro da nova religião (fato esse normal devido às condições da
sociedade da época), estava garantida a promessa realizada pelo próprio
Deus onde as “portas do inferno não prevaleceriam” sobre aquilo que ele
próprio havia fundado: à Igreja.
Aqueles que pregam no advento e ajuda do Império Romano entre o século
III e IV devem concordar que a liberdade de culto concedia por Teodósio I foi
fundamental para a expansão do Cristianismo, sendo que nessa época a bagagem da
tradição cristã já era rica e continuava a sem enriquecer, uma vez que já
contava com homens dignos de respeito, tais como Santo Atanásio (Doutor da
Igreja - 295-373), Santo Efrém (Doutor da Igreja – 373), São Cirilo (Bispo de
Jerusalém – 386), São Jerônimo (Doutor Bíblico – 347-420) e um dos mais
conhecidos, Santo Agostinho (Bispo e Doutor – 354-430).
É interessante notar que os dois séculos que alguns repudiam, foram um
dois mais importantes para a cristandade, já que em 325 no concílio ecumênico
de Nicéia foi declarado e confirmado com a ajuda do Espírito Santo de Deus a
natureza de Jesus Cristo como parte primordial na Trindade Santa e em 381
(Constantinopla) confirmado a consubstancialidade da natureza do E.S junto do
Pai e do Filho. Desde o início, os primeiros pastores, sucessores diretos dos
apóstolos garantiram e lutaram para que pudéssemos crer no que hoje cremos.
Santo Inácio de Antioquia (110), a caminho do seu martírio em Roma, escreveu
diversas cartas para Igrejas já estabelecidas, entre Éfeso, Magnésia, inclusive
aos esmirnenses no qual escreve:
Epístola
aos Esmirnenses; 35-110 d.c; Cap VIII – “Onde
quer que se apresente o bispo, ali também esteja à comunidade, assim como a
presença de Cristo Jesus também nos assegura a presença da Igreja Católica. Sem
o bispo, não é permitido nem batizar nem celebrar o ágape. Tudo, porém, o que
ele aprovar será também agradável a Deus, para que tudo quanto se fizer seja
seguro e legítimo”.
A grande verdade, é que desde muito cedo e de forma concreta, o
catolicismo já havia estabelecido hierarquia própria para a propagação do
evangelho e combate contra as heresias que conforme os anos poderiam surgir,
inclusive no fim do século II temos datado um dos primeiros apologistas, um
cristão chamado de Aristides de Atenas onde
escreveu sua apologia ao imperador explicando sobre a vida e conduta dos
cristãos.
Durante toda a história de
dois mil anos de existência, a Igreja Católica sempre possuiu grandiosas
dificuldades como se vê no cisma do Oriente que teve seu ápice em 1053, onde o
orgulho de dois Patriarcas (Fócio e Miguel Cerulário) se sobressaiu ao ponto de
desconsiderar a jurisdição papal sobre todo o catolicismo. O cisma ocidental também
foi um agravante dentro da comunidade católica, onde o conciliarismo tomou grandes
proporções na intenção de enfraquecer o prestígio do Papado na Cristandade. A
“reforma” promulgada por Lutero também causou dolorosas feridas na Igreja de
Cristo, entretanto, tais dificuldades foram superadas com a ajuda divina, onde
nós católicos podemos crer que ao chegarmos ao século XXI, o santo espírito
guiou a Igreja de forma magnífica. Muitos tentaram destruí-la e mesmo que suas
estruturas ficassem danificadas por algum tempo, continuaram em pé como Nosso
Senhor assim prometeu.
Sendo assim, dizer que a tradição cristã e a história da Igreja se opõem
de forma “vil” ao amor Cristão e a verdade bíblica é no mínimo estranho, já que
até mesmo muitas outras confissões ditas cristãs precisaram dela para confirmar
o que creem. Afinal, as heresias chegaram ao primeiro século, mas o Espírito
Santo como sopro divino estava à frente para dirigir os eleitos nas melhores
escolhas em guiar a Igreja que é coluna e sustentáculo da verdade. Igreja essa
que é Católica, por atender a todos os povos com seu universalismo, apostólica,
por possuir o baú da fé e romana por sua fundação na cidade onde a fé é
celebrada em todo o mundo (Rm 1,8).
Fiquem todos em Cristo Jesus;
Érick Gomes
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