INTRODUÇÃO
A secularização da atual
sociedade tem feito com que a população mundial, as poucos, perca as noções
necessárias de “espiritualidade”. Como parte desse processo destrutivo, a
Igreja Católica tem sofrido diversas perseguições morais, onde, suas bases mais
antigas têm sido postas em check, promovendo assim, debates que deveriam ser
analisados somente no ambiente eclesial, isto é, através de seu magistério.
Um dos assuntos que
frequentemente tem tomado o tempo de não católicos (outras confissões cristãs ou demais religiões) é a regra
celibatária para sacerdotes e religiosos que se encontra afixada na lei do
direito canônico (Cân 277). Procurando esclarecer esta doutrina, que
verdadeiramente se trata de um “dom de Deus”, queremos aqui demonstrar o que a
Igreja ensina sobre tais regras e qual o argumento utilizado para promover a
observância dessa continência. Qual é a regra bíblica para essas ações? As
sagradas escrituras ensinam o celibato?
Descubra através desse texto, o
que a fé da Igreja ensina a respeito da castidade para religiosos.
O QUE A IGREJA CATÓLICA ENSINA NO CIC E CDC SOBRE O
CELIBATO?
Atualmente, a sociedade tem colocado inúmeros problemas
para aqueles que escolhem esse “estilo de vida”. A grande parte das opiniões,
nunca é embasada por aquilo que a Igreja ensina e sim, por parte de homens que
desconhecendo as doutrinas católicas, procuram justificar suas opiniões através
de ideias promíscuas que destroem a alma humana. A Igreja sempre entendeu, com base em sua
tradição e nos escritos bíblicos, que o celibato não significa simplesmente
“abstinência sexual” e sim, um ofertório perfeito, onde cada pessoa se entrega
inteiramente ao projeto de Deus. Certo disso, o catecismo católico afirma:
CIC 915 – “Os
conselhos evangélicos, em sua multiplicidade, são propostos a todo discípulo de
Cristo. A perfeição da caridade à qual todos os fiéis são chamados comporta
para os que assumem livremente o chamado
à vida consagrada a obrigação de praticar a castidade no celibato pelo Reino, a
pobreza e a obediência. É a profissão desses conselhos e um estado de vida
estável reconhecido pela Igreja que caracteriza a ‘vida consagrada’ a Deus”.
A “obrigação” de se manter casto, não se resume
unicamente em não contrair o matrimônio, mas sim, firmar um compromisso de
casamento com a comunidade onde o consagrado preza pela obediência, seguimento
dos conselhos evangélicos e assume a pobreza (não necessariamente a material)
que há em nossas ações. O CIC também afirma que:
CIC 1579 – “O
celibato é um sinal desta nova vida a serviço da qual o ministro da Igreja é
consagrado; aceito com coração alegre, ele anuncia de modo radiante o Reino de
Deus”.
A escolha do celibato também é afirmada no direito
canônico da Igreja na seguinte forma:
CDC 277 – “Os
clérigos são obrigados a observar a continência perfeita e perpétua por causa
do Reino dos céus; por isso; são obrigados ao celibato, que é um dom especial
de Deus, pela qual os ministros sagrados podem mais facilmente unir-se a Cristo
de coração indiviso e dedicar-se mais livremente ao serviço de Deus e dos
homens”.
A obrigação mencionada no CIC e CDC se resume a escolha
pessoal de cada indivíduo. Ninguém é obrigado a ser sacerdote ou religioso, a
escolha é feita mediante a vontade própria. Por isso, é errado dizer que a
“Igreja proíbe o casamento” ao clero. Ao contrário disso, todo aquele que
escolhe o caminho do sacerdócio/religioso, o faz por livre e espontânea vontade,
afinal, aceitar o celibato é aceitar o dom de Deus em sua vocação.
O QUE AS SAGRADAS ESCRITURAS ENSINAM SOBRE O CELIBATO?
Diferente do que muitos pensam, a bíblia menciona em
diversas passagens a possibilidade do celibato. A ideia de vida consagrada não
surgiu dentro do ambiente eclesial, ao contrário disso, o próprio Jesus Cristo
manifestou sua vontade de possuir homens que dedicassem suas vidas inteiramente
ao Reino de Deus.
A primeira referencia que encontramos, está no
evangelho segundo Mateus:
“Eunucos por amor ao Reino de Deus”
Mt 19,10-12 – “Os
discípulos disseram-lhe: Se é assim a condição do homem em relação a mulher,
não vale a pena casar-se. Eles acrescentou: Nem todos são capazes de
compreender essas palavra, mas só aqueles a quem é concedido. Com efeito, há eunucos que nasceram assim, do ventre
materno. E há eunucos que foram feitos eunucos pelos homens. E há eunucos que se fizeram eunucos por
causa do Reino dos Céus. Quem tiver capacidade para compreender,
compreenda!”
Alguns versos antes desses aqui expostos (Mt 19,1-9), mostra-nos Jesus em
conversa com os Fariseus a respeito do “matrimônio”. Cristo ensina que o
casamento é insolúvel e aquele que larga sua esposa para desposar outra mulher,
comete adultério. Como conclusão dessa conversa, os apóstolos questionam o
Senhor sobre tal prática e concluem que o ideal seria não se casar. Em
reposta, Jesus usa de exemplo uma posição que na época antiga, em alguns casos,
eram de homens que trabalhavam como servidores domésticos: o eunuco.
Eunuco é um homem que não possui os “testículos” por
motivos congênitos (má formação no período de gestação) ou porque teve seu
órgão removido por orquidectomia (remoção dos testículos), em outras palavras,
são homens “celibatários” de forma involuntária. Jesus Cristo usa dessa ideia
para dizer aos discípulos que alguns são eunucos não por escolha, mas por
consequência ou obrigatoriedade, entretanto, o messias coloca uma nova classe:
os eunucos que assim se tornaram por amor ao Reino de Deus. Esses novos
eunucos, se ofertaram por amor ao Reino e optaram por não se casar. Os eunucos
do reino não passaram por uma espécie de castração física, mas sim, optaram
pela castidade por amor a Deus e aos irmãos. Cristo deixa isso claro ao dizer
que o celibato é possível ao decidir-se por guardar os ímpetos carnais.
As próximas referencias que identificamos sobre o
celibato, encontram-se no capítulo 7 (sete) da primeira carta aos coríntios. Em
alguns versículos, conseguiremos visualizar que o pensamento paulino sobre a
castidade é a principal formação da Igreja usada até os nossos dias.
“Quisera que todos fossem como eu”
I Cor 7,7-8 – “Quisera
que todos os homens fossem como sou;
mas cada um recebe de Deus seu dom particular, um, deste modo, outro, daquele modo. Contudo, digo aos celibatários e
às viúvas que é bom ficarem como eu”.
As sagradas escrituras não nos concedem informações se
Paulo foi casado ou se possuiu algum relacionado anterior a sua conversão, o
que sabemos por suas cartas é que o apóstolo foi um dos primeiros a defender o
celibato. O capitulo sete da primeira carta aos coríntios é dedicado
inteiramente ao assunto de “matrimonio e virgindade” e é aqui que encontramos
os reais motivos que levaram a Igreja durante os séculos a aceitar o celibato
com naturalidade.
Em sua primeira instrução, Paulo afirma que gostaria
que todos os cristãos fossem como ele e que guardassem a castidade por amor ao
Reino de Deus, entretanto, sabe que esse dom não é de todos e que somente
alguns poderiam assim fazer, entretanto, o apóstolo deixa claro que aqueles que
ainda não contraíram matrimônio e até mesmo as viúvas, fiquem como ele e assumam
uma posição de celibato perante a Igreja.
“Quem não é casado cuida das coisas do Senhor”
I Cor 7,32-34 – “Eu
quisera que estivésseis isentos de preocupações. Quem não tem esposa, cuida das coisas do Senhor e do modo de agradar ao
Senhor. Quem tem esposa, cuida das coisas do mundo e do modo de agradar a
esposa, e fica dividido. Da mesma forma,
a mulher não casada e a virgem cuidam das coisas do Senhor, a fim de serem
santas de corpo e de espírito. Mas a mulher casada cuida das coisas do mundo;
procura como agradar ao marido”.
Paulo inicia esse verso dizendo que gostaria que os
cristãos de Corinto não tivessem “preocupações”. As preocupações que o apostolo
se refere são daqueles que são casados. Na conclusão do seu raciocínio, ele
demonstra o que realmente pensa sobre os que contraem matrimonio. Nestes dois
versículos, vemos que a preocupação do apóstolo é dizer que o homem e a mulher
que se decidem pelo celibato, estão inteiramente prontos a assumir um
compromisso onde descobrirão a melhor forma de agradar ao Senhor. Já para os
casados, o discurso parece ser duro: “quem
tem esposa, cuida das coisas do mundo”.
É interessante afirmar que em nenhum momento, Paulo
quer desmerecer o matrimonio que para a Igreja, é um sacramento do amor de
Deus, ao contrário disso, o apóstolo quer afirmar que aquele que se guarda em
castidade, se dedicará inteiramente a Deus, ao contrário dos casados, que terão
que se preocupar em como agradar o esposo ou a esposa.
“Os que não se contaminaram e são virgens”
Ap 14,4 – “Estes
são os que não se contaminaram com mulheres: são virgens. Estes seguem o
Cordeiro, onde quer que ele vá. Estes foram resgatados dentre os homens, como
primícias para Deus e para o Cordeiro”.
Diferente do antigo testamento que possuía a concepção
de que a falta de descendentes seria uma desonra (Jz 11,37), o novo testamento revela uma perspectiva diferenciada; aqueles
que se guardam, são os que realizam a vontade do Senhor de uma forma plena,
isto porque, possui um tempo inteiramente dedicado a Deus. Aquele que se casa,
faz bem, porém, o que guarda sua virgindade, o faz melhor!
Aqueles que tomam a iniciativa de “seguir o Cordeiro, onde quer que ele vá”, assume um compromisso perante
o Reino de Deus, faz seus votos de castidade para que assim, se entregue verdadeiramente
a obra do Senhor no serviço comunitário.
O verso do apocalipse aqui citado, nada fala sobre
sacerdócio, entretanto, trazendo para a realidade da Igreja, podemos sim fazer
um comparativo com todos aqueles que se ofertam a vida celibatária por amor a
Deus. Estes são resgatados como primícias e seguem ao Senhor com alegria
missionária em todos os lugares do mundo.
CONCLUSÃO
O celibato não é um dogma que a Igreja promulgou, ao
contrário do que muitos pensam, a “castidade” é uma regra disciplinar interna
que poderia ser alterada se assim, o magistério, unido ao Papa, quisesse.
Contudo, a fé católica tem o total respaldo em afirmar que o voto celibatário é
um Dom oferecido aos homens, que dotados da graça de Deus, são convidados a
assumir um “casamento” com a comunidade cristã, a fim de servir ao Senhor e aos
irmãos.
As sagradas escrituras nos concedem provas
irrefutáveis, confirmando aquilo que a Igreja preserva para os religiosos:
muitos possuem a vocação do matrimonio, porém, outros são chamados a serem
“eunucos” pelo reino de Deus e dessa forma, ofertam suas vidas em pró da
construção do Reino do Senhor.
Este dom que é tão criticado pela sociedade atual, é a verdadeira
prova de que a Igreja Católica tem seguido fielmente as palavras dos apóstolos
que deixaram tudo para seguir o Senhor Jesus Cristo. O pensamento secular
jamais influenciará as doutrinas, dogmas e regras da Igreja, afinal, remamos na
maré contrária ao mundo.
Lc 18,29-30 – “Disse,
então, Pedro: ‘Eis que deixamos nossos bens e te seguimos’! Jesus lhes disse:
‘Em verdade vos digo, não há quem tenha deixado casa, mulher, irmãos, pais ou
filhos por causa do Reino de Deus, sem que receba muito mais neste tempo e, no
mundo futuro, a vida eterna’”.
Que Deus vos abençoe!
Érick Augusto Gomes
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